Gaspard, Adèle e Sandra: Freud explica? |
Para fechar o #FimDeSemana dedicado à cineasta Justine Triet, temos seu terceiro longa de ficção. Depois de dois filmes que enveredavam pelo tom cômico, a francesa Justine Triet resolveu explorar o campo do suspense com uma história complexa que flerta o tempo inteiro com projeções, transferência, arquétipos, identidades e tudo mais. O resultado estreou no Festival de Cannes2019 e dividiu opiniões, sobretudo pela forma como o roteiro amplia tanto suas possibilidades que depois enfrenta problemas para resolver o que apresentou ao espectador. Sibyl (Virginie Efira) é uma psicoterapeuta que sonha ser reconhecida como escritora. Ela está tão decidida a escrever um romance que chega a interromper o tratamento de trinta pacientes para que possa se dedicar à escrita. Enquanto busca inspiração, ela acaba recebendo a ligação de Margot Vasilis (Adèle Exarchopoulos), uma jovem atriz que está em crise. Desesperada, Margot passa a se consultar com Sibyl e revela que está muito aflita por estar grávida de seu parceiro de cena, Igor (Gaspard Ulliel) que namora a diretora do filme em que trabalha atualmente. Margot pretende fazer um aborto para não comprometer sua carreira e a do amante, mas também não tem certeza se essa é a decisão certa a fazer. O drama da atriz faz com que Sibyl relembre um dilema parecido que enfrentou no passado e considera que ali existe a inspiração necessária para escrever seu livro. Só que Sibyl começa a fazer tudo o que não deve em nome de seu processo criativo, além de gravar as conversas com a paciente sem consentimento dela, se apropria de sua história para construir a trama do livro e, mais tarde, ela mesma começa a ter contato com Igor. Sibyl e Margot tem suas semelhanças, mas também são figuras um tanto antagônicas que se complementam ao longo da história que tropeça aqui e ali enquanto mistura as duas num emaranhado de situações em que a vida de Sibyl começa a entrar em crise e desmoronar no envolvimento com a nova paciente. O filme cria um emaranhado psicológico tão complicado entre seus personagens que por vezes nem se preocupa em colocar sua protagonista em situações que façam sentido (como as duas intervenções diretas de Sibyl na gravação do filme), isso compromete um pouco a credibilidade da história perante o espectador. O melhor mesmo fica por conta das atuações (com participação de Sandra Hüller como a diretora séria e traída) que ajudam o espectador a não saber muito quem de fato são aqueles personagens, além daquelas cenas em que o filme não se leva muito a sério (a cena dos tapas seguidos em Igor soa como uma vingança velada). Triet apresenta aqui mais uma vez seu interesse por personagens femininas em crise, mas começa a enveredar por uma seara mais complexa do que vimos em seus longas anteriores se tornando mais inquieta e ousada na construção de suas tramas.
Sibyl (França-2019) de Justine Triet com Virginie Efira, Adèle Exarchopoulos, Gaspard Ulliel, Sandra Hüller, Niels Schneider, Arthur Harari e Paul Hamy. ☻☻☻
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