Kali e Jodie: mistérios longa noite adentro. |
Durante a exibição da quarta temporada de True Detective da HBO ouvi muita gente comentando sobre os haters em torno da temporada, o discurso girava em torno de termos como "lacração", "militância" e o fato das protagonistas serem mulheres. Até o criador da série, Marc Pizzolatto resolveu aparecer para reclamar do programa. Sinceramente, a primeira temporada criada por ele é excepcional, mas aquela segunda temporada foi... traumatizante. A terceira tentou colocar as coisas nos trilhos, mas não me deixou muito impactado. A quarta se tornou a maior audiência do programa e, embora traga muitos elementos diferentes para o universo da antologia, conseguiu criar uma identidade própria e prender bem mais a minha atenção que as duas anteriores. A trama (de seis episódios agora disponíveis na HBOMax) girou em torno de um crime envolvendo cientistas que desenvolviam suas pesquisas no gélido estado do Alasca, justo no início da longa noite que cai sobre a cidade de Ennis ao final do ano. Serão vários dias sem a claridade do dia, o que torna a situação ainda mais sombria. Após o desaparecimento dos cientistas, eles são encontrados nus e congelados no meio do nada. Segue-se então as investigações das detetives Denvers (Jodie Foster) e Navarro (Kali Reiss) que encontram pistas que relacionam a morte daqueles homens com o assassinato de uma mulher nativa americana que nunca foi solucionado por ambas. A temporada faz referência a alguns elementos das temporadas anteriores, mas usa um pouco mais dos elementos místicos que apareciam na primeira temporada (motivada muitas vezes pela cultura dos povos originários da região e a longa noite que recai sobre os personagens). Existem aqui os conflitos das protagonistas, mas também dos coadjuvantes que os cercam, com destaque para os policiais Hank Prior (John Hawkes) e Peter Prior (Finn Bennett), pai e filho que por vezes parecem estar em lados opostos das investigações. Conforme a trama avança, descobrimos como os crimes se relacionam e o desfecho explica quase tudo que aconteceu naquela noite, mas deixa alguns segredos para manter o espectador instigado. Gostei muito da ambientação da temporada naquele lugar gélido, que por vezes parece moldar a personalidade dos moradores locais e os conflitos regionais que o programa apresentou, elementos que afetam o desenvolvimento da história. É verdade que por vezes a temporada parece ser um texto que sofreu ajustes para fazer parte do universo criado por Pizzolatto, mas tem uma explicação para isso, já que a idealizadora da temporada, a mexicana Issa López tinha inicialmente uma proposta de projeto com a HBO que depois os produtores consideravam que poderia ser moldado como uma nova temporada da antologia. Embora eu entenda o descontentamento de alguns por conta disso, não encontrei motivos para reclamar do desenvolvimento do programa. Achei a tensão muito bem trabalhada e a sugestão de que paira algo de sobrenatural sobre tudo aquilo também ajudou a prender minha atenção e, obviamente, fica difícil reclamar de um programa ancorado por outra atuação genial de Jodie Foster. A mulher é um colosso em cena e reservou para o último episódio uma das cenas mais agressivas de sua personagem, mas que me fez chorar por perceber toda a dor que carrega. Se a dupla formada por Matthew McConaghey e Woody Harrelson entraram para a história por conta da primeira temporada, atrevo dizer que a parceria de Foster e Kali Reis merece o mesmo em seus embates de companheirismo e repulsa.
True Detective - Terra Noturna (True Detective - Night Country / EUA - 2024) de Issa López com Jodie Foster, Kali Reiss, Finn Bennett, Fionna Shaw, John Hawkes e Isabella LaBlanc. ☻☻☻☻
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