Cinco produções assistidas durante o mês que merecem destaque:
domingo, 31 de agosto de 2025
PL►Y: A Noite Sempre Chega
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Kirby: longa jornada noite adentro. |
sábado, 30 de agosto de 2025
4EVER: Luis Fernando Veríssimo
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26 de setembro de fevereiro de 1936 ✰ 30 de agosto de 2025 |
domingo, 24 de agosto de 2025
4EVER: Jaguar
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29 de fevereiro de 1932 ✰ 24 de agosto de 2025 |
PL►Y: Síndrome da Apatia
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A família exilada: a derrota mental perante a burocracia. |
Sergei (Grigory Dobrigyn) e Natalia (Chulpan Khamatova) são refugiados políticos russos que migraram para a Suécia em busca de segurança e uma vida melhor após as perseguições sofridas por Sergei. O casal tem duas filhas, Katja (Miroslava Pashutina) e Alina (Naomi Lamp) e dependem da aceitação do pedido de asilo político para conseguir seguir suas vidas. No entanto, quando a o pedido é negado pela burocracia sueca, a pequena Katja tem uma reação inesperada que é identificada com o nome do título. Este é só o início dos problemas que a família irá enfrentar ao longo do filme, já que terão que realizar procedimentos protocolares para lidar com a filha e, aos poucos, Alina também enfrentará problemas. Talvez por ser assinado por Alexandros Avranas, cineasta vindo da Estranha Onda Grega, eu imaginei que a síndrome do título fosse algo fictício, mas ela existe realmente e acomete pessoas que diante de uma realidade insuportável, criam uma defesa psíquica que anestesia qualquer reação diante dos fatos (e o final do filme faz questão de oferecer mais informações sobre a incidência deste mal). Chega a ser surpreendente ver o que Avranas faz por aqui depois de conhecer seu trabalho com os chocantes Miss Violência (2013) e Não me Ame (2017), Síndrome da Apatia traz aquelas interpretações sutis perante situações absurdas que se tornaram marcas do recente cinema grego, mas a constrói de uma forma ainda mais sufocante para seus personagens, até que encontrem uma saída viável e, quando ela surge, parece ainda mais surreal (que lembra um pouco as crianças que vemos em O Sacrifício do Cervo Sagrado/2017 do diretor mor da onda grega, o Yorgos Lanthimos). No entanto, Síndrome da Apatia soa emperrado, talvez por ser calcado em uma dolorosa realidade, o filme opte por ser respeitoso demais e carece de uma guinada que provoque mais impacto em seu desfecho (afinal, o impacto ocorre no início e segue nos desdobramentos da família para reaver a companhia da filhas). Embora seja bastante doloroso de assistir, senti falta de uma catarse mais explosiva, o filme mantém algum mistério sobre a ambiguidade do casal e sua ida para a Suécia, mas nada muito impactante. Aqui, toda a economia do diretor e o medo de cair no melodrama acabou drenando a emoção.
Síndrome da Apatia (Quiet Life / França - Suécia - Alemanha - Estônia - Grécia - Finlândia / 2025) de Alexandros Avranas com Chulpan Khamatova, Grigory Dobrygin, Naomi Lamp, Miroslava Pashutina, Elei Roussinou, Lena Endre e Alicia Eriksson. ☻☻☻
Na tela: A Hora do Mal
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Julia e Josh: quebra-cabeça misterioso. |
Em uma pacata cidade, dezessete crianças que estudam em uma mesma sala saem de suas casas às duas e dezessete da manhã em direção ao desconhecido como se estivessem em transe. Ninguém sabe para onde foram. Ninguém sabe o que aconteceu. Diante de todo o mistério, dois pontos chamam atenção: um é que todos são estudantes da turma de uma mesma professora, a Justine (Julia Garner) - que já tem uma cota considerável de dramas no passado para administrar em sua fama -, o outro ponto é que apenas um menino da turma, o Alex (Cary Christopher) permanece ao lado de sua família. A partir deste mistério o diretor Zach Cregger tece uma rede de histórias cruzadas sob o olhar de alguns personagens que tem em mãos. Para além dos citados, também recebem suas partes na narrativa um policial (Alden Ehrenreich), o diretor da escola (Benedict Wong), um rapaz sem-teto (Austin Abrams) e um pai indignado com tudo o que aconteceu (Josh Brolin) e que tem certeza que a professora tem responsabilidade no desaparecimento das crianças. Este é o segundo filme de Cregger, antes ele já chamara atenção em seu filme de estreia, Noites Brutais/2022, que nas suas entrelinhas também lidava com desaparecimentos. No entanto, A Hora do Mal é bem mais ambicioso em sua estrutura, principalmente pelo roteiro minuciosamente construído em seus capítulos que correm em paralelo, mas convergem para uma mesma direção. Cuidadoso na evolução de sua trama, Cregger repete momentos sobre outros ângulos e altera o rumo de perspectivas afim de instigar o espectador a entender o que está acontecendo. O clima fantasmagórico é ressaltado pela fotografia sombria, detalhes estranhos e pesadelos que parecem trazer revelações escondidas. Ah claro, não podemos esquecer da Tia Gladys, personagem que rouba a cena desde seu primeiro momento e graças ao talento da atriz Amy Madigan sai do disfarce caricatural para revelar-se uma vilã inesquecível. Embora todo o elenco esteja ótimo em cena, torna-se algo realmente gratificante ver Amy em um papel de destaque novamente em sua carreira. A atriz foi indicada ao Oscar por seu trabalho em Duas Vezes na Vida (1986) e engatou alguns projetos de sucesso como Ruas de Fogo (1984), Campo dos Sonhos (1989) e Quem Vê Cara Não vê Coração (1989), mas fazia tempo que não tinha chance de explorar sua versatilidade em cena. A esposa de Ed Harris caiu tanto na graça do público que já pedem até em indicação ao Oscar de coadjuvante para ela (será que consegue?). De qualquer forma, A Hora do Mal (com suas referências que vão de Monster/2023 ao conto clássico do Flautista Mágico) tenta garantir o título de melhor terror do ano. Em tempo, vale dizer que eu dei boas gargalhadas na perseguição antes da carnificina do final. O melhor de tudo é imaginar o que Zach Cregger fará em seguida.
A Hora do Mal (Weapons / EUA - 2025) de Zach Cregger com Julia Garner, Josh Brolin, Amy Madigan, Alden Ehrenreich, Cary Christopher, Benedict Wong e Austin Abrams. ☻☻☻☻
PL►Y: Todo Tempo que Temos
Andrew Garfield e Florence Pugh são dois dos melhores atores que Hollywood tem disponíveis para seus filmes. Infelizmente nem todo filme protagonizado por ambos está à altura do talento destes artistas, mas, mesmo quando o material que lhes chega não é lá grande coisas, eles conseguem fazer milagres com o que tem em mãos. Ao menos conseguem manter a integridade, deles e dos personagens que defendem. Todo o Tempo que Temos está longe de ser memorável e em alguns momentos ressalta o desgaste do subgênero em ter que lidar com um tema pesado de forma leve para o grande público sedento por comédias românticas com algum conteúdo. De certa forma o que o diretor John Crowley (do ótimo Brooklyn/2015 e o fiasco O Pintassilgo/2019) faz aqui é buscar sempre o equilíbrio entre um filme água com açúcar com uma gotinha de fel. Ele conta a história de Almut (Florence) e Tobias (Garfield), um casal mais do que apaixonado que parece viver num comercial de margarina saudável. Eles se amam, são felizes, tem um bebê lindo e... aparece uma doença para acabar com todos os planos que os dois tinham de envelhecer juntos, afinal, o "até que a morte os separe" resolve antecipar. O clima pesa e a relação começa a vivenciar conflitos sobre o legado que Almut pretende deixar em vida. Isso já daria conta de construir um filme, mas lá pelos primeiros vinte minutos o espectador é pego de surpresa (pelo menos eu fui) e começa a perceber que a narrativa embaralha os tempos de vida do casal. Indo para o dia em que se conheceram e como aos poucos superaram as diferenças e desconfianças um pelo outro - e o fato de Tobias ter sobrevivido a um divórcio também colabora muito para que tenha alguma resistência a se envolver com uma mulher tão descolada como Almut. Pode se dizer que o maior mérito do filme se deve à dupla protagonista que defende seus personagens mais uma vez como se fossem pessoas reais, de carne e osso que poderiam ter estudado com você ou morar na casa em frente. Esta característica que cria o envolvimento com a narrativa que por vezes transforma as idas e vindas temporais como uma verdadeira armadilha para a fluência e a compreensão do que se vê na tela (neste caso fica legal na primeira ou segunda vez, mas depois cansa, já que todo mundo já imagina como tudo irá terminar). O final também é bonitinho, mas ressalta como é difícil chegar ao inevitável sem ser pesado demais para a plateia que quer ver o casal apaixonado triunfar no final.
Todo Tempo que Temos (We Live in Time / Reino Unido - França / 2024) de John Crowley com Florence Pugh, Andrew Garfield, Grace Delaney, Lee Braithwaite, Adam James e Douglas Hodge. ☻☻☻