Yakusho, Ujiki e Hajiwara: e se serial killer tiver super-poderes?
Muitos consideram o cineasta Kiyoshi Kurosawa um mestre do terror japonês. Dirigindo desde a década de 1970, ele acumula vários títulos que são dignos de culto pelos fãs. Um deles é este intrigante A Cura, que foi lançado em uma época em que os serial killers cinematográficos estavam em alta em produções de Hollywood - e se David Fincher soube fazer a diferença com Se7en (1995), dois anos depois, Kurosawa (que não tem nenhum parentesco com o Akira Kurosawa) também soube deixar a plateia hipnotizada com o suspense de sua trama. O filme conta a busca do detetive Kenichi Takabe (Kôji Yakusho) pela relação que existe entre uma série de crimes cometidos por pessoas diferentes em circunstâncias semelhantes. No entanto, alguns elementos demonstram que os crimes possam ter uma relação entre si. Seus autores eram pessoas inofensivas que, subitamente, sem maiores explicações, assassinaram pessoas próximas. O interessante é que a trama conta esta história de uma forma diferente, ao invés de manter o foco somente no detetive, a narrativa parece um tanto dispersa no início, apresentando vários personagens e, aos poucos, nos damos conta do painel traçado como se fosse um mapa das pistas que levarão até o provável responsável pelas atrocidades. Quando ele aparece (um ótimo trabalho de Masato Hagiwara), esquecido, perdido, sem identidade, somos incapazes de dizer do que aquele jovem é capaz de fazer - mas não demora para que possamos perceber o quanto aquela figura difusa é ameaçadora. Em determinados momentos o detetive parece até mais ameaçador do que o rapaz de fala macia e conversas enigmáticas. Colocando o vilão emaranhado na mente de seus "cúmplices", o filme assume riscos que o torna ainda mais estimulante e surpreendente, deixando os caminhos do detetive tão imprevisíveis quanto os crimes cometidos. Não por acaso, o final lembraria o filme de Davi Fincher se o roteiro não se esticasse mais um pouco e apresentasse que ameaça pode estar em qualquer lugar. Vendo o filme lembrei de uma conversa sobre Longlegs/2024 em que dois alunos (que curtem muito cinema) me recomendaram este filme que não estava disponível em streaming algum (agora está fresquinho no Filmicca). Kiyoshi Kurosawa faz um filme seco e até elegante perante a atmosfera psicológica que emana desde os momentos iniciais.
A Cura (Cure/Kyua - Japão/1997) de Kiyoshi Kurosawa com Kôji Yakusho, Masato Hagiwara, Tsuyoshi Ujiki, Anna Nakagawa, Yoriko Dōguchi, Yukijirō Hotaru e Ren Osugi. ☻☻☻☻