Os Bondurant reunidos: bom uísque produzido no fundo do quintal.
John Hillcoat prova cada vez mais que é um ótimo diretor, no entanto, ainda encontra dificuldade para encontrar o seu público. Se A Estrada (2009) foi vítima das próprias expectativas geradas, com Os Infratores não foi diferente. Se no primeiro o diretor se contentava em centrar sua narrativa em dois personagens (defendidos com maestria por Viggo Mortensen e Kodi Smit-McPhee), aqui ele lida com quase uma dezena de personagens sem muita dificuldade. Reserva destaque para Tom Hardy e Shia Labeouf, mas sabe por que vale a pena ter Jessica Chastain, Gary Oldman e Mia Wasikowska por perto. O cinema de Hillcoat não deve ter encontrado o seu público ainda pela atração que o diretor tem por universos onde a lei não serve para muita coisa, as instituições são falidas e resta a tentativa de se guiar no caos onde mocinhos e bandidos tem suas linhas divisórias borradas. O gosto cinéfilo do diretor ainda fica mais evidente quando lida com a violência de uma forma livremente inspirada em faroestes clássicos. Embora seja ambientado durante a lei seca nos EUA na década de 1920, em vários momentos me senti diante de um legítimo bang bang. O filme é baseado em uma história real e conta a história dos irmãos Bondurant. Jack (Shia LaBeouf, se esforçando num papel sério) é o caçula da família, menos troglodita que seus irmãos, ele vive se dando mal (e a cena de abertura onde hesita em matar um porco com um tiro mostra bastante de sua personalidade). As coisas pioram bastante quando quando chega à cidade um agente cheio de pose (Guy Pearce, mais afetado do que em Priscila, A Rainha do Deserto) que pretende fazer valer a famigerada lei seca quando os Bondurant se recusam a compartilhar os lucros com as autoridades locais. Vale lembrar que esse período fez a glória dos gangsters que contrabandeavam bebidas destiladas de produtores clandestinos que driblavam as leis para ganhar a vida. Mais do que um herói juvenil, Jack reflete muito da atração que o cinema tem pelo gangster, seu estilo bem alinhado, os carros velozes, a pose de encrenqueiro - embora nutrindo um amor puro pela filha do pastor da região (Mia Wasikowska). Embora Jack receba bastante atenção, quem chefia o clã Bondurant é Forrest (Tom Hardy), que fala pouco e gosta de incrementar os boatos de que é invencível (o que só aumenta a raiva do tal agente por sua família), ainda que sofra todo tipo de golpe mortal de seus rivais. Hardy já provou várias vezes que é capaz de mostrar que os brutos também tem coração, mas não lembro dele ter uma química tão boa entre um troglodita e uma dama como vemos em seu personagem ao lado da personagem de Jessica Chastain. Na trama sobrou pouco espaço para Howard Bondurant (Jason Clarke), que fica restrito a alguns momentos de surto durante o filme. Muita gente deve se incomodar com a violência impressa por Hillcoat na trama, especialmente pelos requintes com que são mostradas. De homens castrados passando por pescoços quebrados (ou cortados), o filme é um verdadeiro desafio ao estômago do público. No entanto, vale a pena desviar o olhar quando o diretor exagerar e acompanhar a força da narrativa impressa por ele e por seu elenco (destaque ainda para Dane DeHaan, que me lembra cada vez mais o jovem DiCaprio). O mais interessante e que com todo o cuidado estético da produção o que mais me chamou a atenção foi o nome do roqueiro Nick Cave como responsável pela adaptação do livro de Matt Bondurant (neto de Jack), em alguns momentos eu parecia estar ouvindo algumas de suas músicas enquanto via e ouvia as cenas.
Os Infratores (Lawless/EUA-2012) de John Hillcoat com Shia LaBeouf, Tom Hardy, Guy Pearce, Dane DeHaan, Jason Clarke, Jessica Chastain e Mia Wasikowska. ☻☻☻
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