Ferrell: personagem em maré de azar.
Will Ferrel é um comediante, que como todos os outros, gosta de fazer um personagem mais dramático de vez em quando. No entanto, ele tem uma vantagem sobre os demais que é a crítica elogiando suas atuações mais contidas e, a habilidade de saber escolher as produções mais sentimentais que aparecem em seu caminho. Ele só precisa tomar cuidado para não fazer sempre o mesmo personagem nesse tipo de filme. Em Pronto para Recomeçar ele é Nick Halsey, um homem que irá enfrentar a pior semana de sua vida. Devido à sua instabilidade ele acaba sendo demitido da empresa em que trabalhou por anos. Não bastasse esse problema, ao chegar em casa ele encontra sua coisas no jardim e a casa, de fechaduras novas, trancada. A esposa se mandou e deixou uma carta de despedida dizendo que estava cansada da vida que levavam juntos. Nick passa então a viver no jardim, esperando que a esposa volte. Se a atitude traz um bocado de melancolia, por outro lado, demonstra que o personagem tem dificuldades de seguir em frente. Sua atitude é invariavelmente tomar uma latinha de cerveja e esperar que os efeitos do álcool o faça esquecer o que está acontecendo. Tudo no roteiro dá a entender que o personagem tem sérios problemas com a bebida, mas não existe cena alguma que demonstre o efeito da bebida sobre o comportamento inconsequente. Senti falta de um momento explosivo do personagem, ele sempre parece passivo e manso demais para um sujeito desagradável que ninguém quer ficar perto. Ou melhor, ele até tem momentos agressivos, mas esses são com a vizinha grávida (Rebecca Hall) que espera o esposo chegar e um menino solitário que quer aprender a jogar beisebol (Christopher Jordan Wallace), mas não são nada demais. Nick ainda tem uma amigo policial (Michael Peña) que aparece de vez em quando para ver como andam as coisas e... no final das contas, Nick irá perceber que na sua vida ele tem pouco mais do que os dois novos amigos e um monte de objetos que, no fundo, não significam muita coisa. Embora a premissa seja interessante, o diretor estreante Dan Rush não consegue imprimir ritmo à narrativa, resultando numa obra arrastada e que não engrena nem na reta final - o que sufoca totalmente a atuação de Ferrell. O roteiro também tem os seus tropeços, por exemplo, eu não entendi muito bem o propósito da mulher deixar tudo do lado de fora da casa e mudar a fechadura se ela nem aparece por ali - me pareceu um exercício sádico demais para quem deveria ser a mocinha incompreendida da história. Esses aspectos fazem com que um filme que poderia ser interessante se torne apenas mediano em sua frieza apática. Mas Will não tem do que reclamar, já que consegue dar conta de um personagem diferente do que o grande público gosta de vê-lo. Apesar disso, ele me lembrou outros caras frustrados em que já deu vida no cinema, o tom do protagonista é o mesmo que já vimos no surreal Mais Estranho que a Ficção (2006) ou Estranha Família (2005). Ou seja, se existe a disposição para viver personagens que não vivem de palhaçada, ao mesmo tempo, ele precisa sair de sua zona de conforto para que consiga se impor em dramas mais ambiciosos do que este. No fundo, todos querem ser uma espécie de Tom Hanks, que ganhou respeito depois de ganhar a vida em comédias até se aventurar em dramas pesados como Filadélfia (1993).
Pronto para Recomeçar (Everything Must Go/EUA-2010) de Dan Rush com Will Ferrell, Rebecca Hall, Christopher Jordan Wallace, Michael Peña e Laura Dern. ☻☻
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