Ezra e Kate: momento de lucidez.
O drama familiar é um dos gêneros mais complicados de se fazer, principalmente quando costuma misturar vários personagens e a tendência de cair no exagero beira o inevitável - especialmente quando o roteiro inventa de mergulhar nos dramas de cada parente. Esse é o mal de Bastidores de um Casamento, filme de estreia de Sam Levinson, que chegou a ser premiado em Sundance pelo roteiro. Ainda que não seja um filme ruim, ele é construído em exageros em torno de um casamento e as relações familiares que se esgarçam quando um bando de parentes se reúne. O problema é que os personagens quase nunca conseguem se afastar da caricatura e o humor negro que brota das situações nasce justamente do excesso de drama, especialmente da protagonista Lynn (Ellen Barkin em atuação esforçada) que tenta colocar a vida em ordem depois que seu primeiro casamento foi um desastre para todos os envolvidos. O problema é que já se passou quase duas décadas desse fracasso emocional! O noivo, que remete ao título em português (que é péssimo), é filho do primeiro casamento de Lynn. Dylan (Michael Nardelli) foi criado pelo pai (Thomas Haden Church) e pela madrasta (Demi Moore, que tem uma das piadas mais bem sacadas do filme ao ser acusada de ser stripper no passado). Dylan é o único filho não problemático de Lynn. Ainda que seja atualmente casada com um marido boa praça (Jeffrey DeMunn), Lynn lida com vários problemas entre seus filhos. Alice (Kate Bosworth), fruto do primeiro casamento, enfrenta problemas psiquiátricos que a leva a se cortar com navalhas e estiletes (e a evita falar com o pai desde o divórcio). Seus meio-irmãos também tem problemas psicológicos, se o caçula (Daniel Yelski) aparenta ter um diagnóstico precoce de autismo, Elliot (Ezra Miller) acaba de sair de uma clínica de desintoxicação após enfrentar problemas com as drogas (mas continua consumindo drogas e álcool escondido da mãe). Embora nunca tenha sido reconhecida como uma grande atriz, a loura Ellen Barkin dá conta do que o roteiro lhe pede: ser uma mulher que está no limite - quando percebe que todos os comentários de sua família gira em torno de sua inabilidade de reconstruir a vida as expressões estranhas de um rosto cheio de plásticas colabora ainda mais para a sensação que um colapso é iminente! Os dramas exagerados ainda ganham espaço com o patriarca da família (George Kennedy) que está prestes a morrer e sua esposa (Ellen Burstyn) que tem medo da solidão que está por vir. O que não falta são lágrimas e alfinetadas de parentes (que tornam a família Baker numa das mais insuportáveis insensíveis do cinema), mas pior que isso são os comentários cheios de psicologismos que nem sempre funcionam, deixando o filme cansativo depois de uma hora de projeção. Enquanto percebemos que a festa de casamento servirá para lavar muita roupa suja, fica evidente que Levinson abraça o olhar cínico de Elliot sobre a família em questão - isso deve explicar porque falta carinho no olhar do diretor perante seus personagens. Presos em caricaturas, poucos são os momentos em que os Baker não são mostrados como seres unidimensionais. No fim das contas, o filme não deixa de ser melancólico ao provar que a tese de Elliot (que momentos tristes unem mais os membros de uma família do que momentos felizes) está certa, ao mesmo tempo que coloca Alice e Elliot acordados guiando a família na volta para o lar (que apesar de tantos problemas parece ser mais confortável do que a casa da vovó).
Bastidores de Um Casamento (Another Happy Day/EUA-2011) de Sam Levinson com Ellen Barkin, Ellen Burstyn, Kate Bosworth, Ezra Miller e Demi Moore. ☻☻
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