Dano e De Niro: perdição de pai para filho.
Já perdi a conta de quantos dramas foram feitos em torno dos dramas de escritores, sejam eles reais (As Horas/2002, Capote/2005, Íris/2001) ou fictícios (As Palavras/2012, Ruby Sparks/2012, Tempo de Crescer/2009), o mais engraçado é que quando eles costumam errar eles caminham sempre para o mesmo caminho. A Família Flynn ilustra bem os tropeços desse subgênero cinematográfico. Existe tantos dramas para o roteiro administrar que o resultado é tão exagerado que fica difícil estabelecer uma conexão com aqueles personagens. Suicídio, drogas e mendigos são alguns dos ingredientes utilizados pelo roteiro de Paul Weitz para o livro de Nick Flynn (com o sugestivo nome de Another Bullshit Night in Suck City). O resultado poderia ser denso, mas soa apenas artificial quando o diretor opta por sempre manter a emoção na rédea curta até que transborde em melodrama algumas cenas depois. Nick Flynn (Paul Dano) é um aspirante a escritor que não consegue escrever. Vive remoendo o fato de ter sido abandonado pelo pai escritor, Johnatan (Robert DeNiro) e da morte da mãe carinhosa Jody (Julianne Moore). No entanto, não espere um coração de ouro no rapaz, ele é capaz de trair a namorada enquanto ela está no trabalho e reencontrar o pai depois de vários anos e, mesmo sabendo que ele não tem para onde ir, não lhe oferece um lugar para ficar. Chega um momento em que Nick procura um novo rumo para a vida: acaba dividindo um lugar (na verdade um galpão) com outros dois caras e arranjando emprego num abrigo para sem tetos por influência de uma quase namorada (Olivia Thirlby). Diante dos dramas daqueles que precisam do abrigo, o olhar de Nick sobre o mundo parece ficar mais sensível, até o momento em que se reencontra com o pai que agora é um sem teto. É como se aproveitasse a oportunidade para dar o troco ao pai pelos anos de abandono. Paul Weitz não faz muitas concessões para que o público se envolva com as aspereza da relação entre pai e filho. Existem um bocado de cobranças e culpas que não são ditas em cena, mas que perpassam a relação da dupla. Se o filme ficasse centrado nos delírios de grandeza de Johnatan e na inabilidade de Nick resolver suas pendengas emocionais com o pai, provavelmente o filme seria melhor, mas o diretor prefere colocar vários penduricalhos pelo caminho sem que o filme tenha tempo suficiente para resolver as situações que apresenta. O vício de Nick é mal explorado, assim como o pesar sobre o suicídio da amorosa mãe é tão corrido que mal nos damos conta do que houve. A impressão é que as coisas simplesmente acontecem, numa sucessão de acontecimentos autodestrutivos sob personagens que parecem estar alheios a si mesmos. Podem pensar que é uma estratégia narrativa, mas é abordagem superficial mesmo. De Niro e Dano fazem o possível, mas seus personagens parecem nunca se encaixar no desenvolver na trama, sempre há um abismo entre eles. Pode parece implicância, mas percebo muito de Paul Weitz e Chris Weitz nessa relação mostrada na Família Flynn. Os Weitz assinaram juntos o excelente Um Grande Garoto (2002) e desde que se separaram fazem filmes que parecem render só a metade do que deveriam. Está na hora de perceberem que o olhar de um complementa o do outro e voltar a trabalhar juntos.
A Família Flynn (Being Flynn/EUA-2012) de Paul Weitz com Paul Dano, Robert De Niro, Julianne Moore, Olivia Thirlby e Lily Taylor. ☻☻
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