Keaton: quem quer ser um bilionário?
É sempre bom ver um ator ser redescoberto e aproveitar o renascimento de sua carreira ao máximo. Em cartaz como o vilão Abutre do novíssimo Homem-Aranha, Michael Keaton andava esquecido até o Oscar de Melhor Ator ter passado de raspão por seu brilhante trabalho em Birdman/2014 (que levou o Oscar de Melhor Filme e outros três). Ele continuou a boa fase com Spotlight/2015 (que também ganhou o Oscar de Melhor Filme e mais o de roteiro adaptado) e ano passado houve quem considerasse que ele emplacaria outro filme entre os favoritos da Academia com este Fome de Poder. No entanto, quando viram o filme os produtores olharam com desconfiança e preferiram lançá-lo depois do período para premiações, em janeiro. De fato, no ano do duelo entre Moonlight e La La Land, a história de altos e baixos de um sujeito comum que ergue um império não teria muita chance. Michael Keaton vive com gosto a história de Ray Crock, um vendedor de máquinas de milkshakes que não está na melhor fase de sua vida. Embora seja ambicioso, sua frustração com as vendas é notável. Eis que um dia ele fica instigado com uma lanchonete que encomenda seis máquinas de uma vez e ele tenta entender o motivo. Foi assim que ele conheceu a lanchonete criada pelos irmãos McDonald. O simpático Mac (John Carroll Lynch) e o sisudo Dick (o excelente Nick Offerman, irreconhecível sem bigode), criaram sua própria linha de produção de hamburguer, capaz de servir em trinta segundos o pedido do cliente e deixá-los satisfeitos ao gasto de quinze centavos por sanduíche. Crock percebe ali uma verdadeira mina de ouro, mas os dois irmãos preferem continuar na segurança do negócio familiar a ficar milionários. Crock começa a trabalhar com eles, preso a um contrato de rédeas curtas que começa a impedir a expansão de seus planos de criar uma milionária rede de fast-food. Assinado pelo mediano John Lee Hancock (que ajudou Sandra Bullock a ganhar seu Oscar de melhor atriz com Um Sonho Possível/2009), o filme tem vários tropeços. A cena em que os irmãos explicam sua criação é tão picotada que você mal entende a genialidade da ideia admirada por Crock, assim como a guinada do protagonista de sujeito falador para "monstro capitalista traiçoeiro" é um tanto brusca tendo vários pontos mal resolvidos (especialmente com relação ao seu casamento), sem falar na pendenga jurídica que acontece tão rápido que você mal entende o que está acontecendo. O problema todo está no roteiro que poderia ter deixado o filme mais redondinho se fosse melhor trabalhado, parece que já nasce ali a incômoda indecisão de exaltar a obstinação de Ray Crock ou mostra-lo como um sujeito sem escrúpulos (e por tanto, as partes menos lisonjeiras são apressadas demais). Com isso o resultado é um tanto desengonçado. David Fincher lidou com a mesma situação quando criou o Mark Zuckerberg de A Rede Social/2010, mas sabia exatamente o distanciamento que queria ter do personagem. Hancock está (muito, muito, mas muito) longe de ser Fincher, transparecendo seu desconforto em lidar com um personagem tão complexo e icônico da cultura americana. Pelo menos, depois do filme, você sempre irá pensar em que fim levou aqueles dois irmãos ao ver aqueles arcos amarelos novamente.
Lynch e Nick: os manos McDonald.
Fome de Poder (The Founder/EUA-2016) de John Lee Hancock com Michael Keaton, Laura Dern, Nick Offerman, John Carroll Lynch, Patrick Wilson, Linda Cardellini e B.J. Novak. ☻☻☻
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