Ainda que seja lembrado por roupas e cabelos espalhafatosos, aos poucos os anos 1980 é redescoberto como um território cheio de criatividade capaz de render histórias curiosas. A Netflix percebeu isso ao criar Stranger Things/2016 (com várias referências aos filmes fantásticos de período) e tentou repetir a dose com uma trama onde as mulheres tentam subverter seus estereótipos justamente quando o discurso do empoderamento feminino está em pauta no showbizz. O engraçado é a empresa de streaming utilizar o ringue para contar essa história. GLOW é sobre a história de um grupo de atrizes desempregadas que se envolvem na produção de um programa de TV onde as mulheres lutam sobre o tatame (com um sabor deliciosamente fake). Produzido por Jenji Kohan (criadora da cultuada Orange Is The New Black) e criada por Liz Flahive e Carly Mensch, a trama gira em torno de Ruth Wilder (Alison Brie, bem diferente dos seus trabalhos em Community e Mad Men). Ruth é uma jovem atriz que ainda não conseguiu o seu lugar ao sol e sua primeira cena é emblemática, já que ela demonstra grande empenho ao viver seu papel... até se dar conta que está interpretando (erroneamente) o homem da trama. A cena revela mais do que parece e Ruth cai como uma luva dentro do contexto abordado pela série, afinal, ainda que ela tenha um caso com o marido da amiga (vivido por Rich Sommer, outro egresso de Mad Men), ela não se enquadra no papel de destruidora de lares - e sente a dificuldade de encontrar sua identidade para criar sua personagem de guerra.
No outro lado da história está a amiga de Ruth, Debbie (Betty Gilpin) que meio que por acaso entra no programa graças a algum prestígio conquistado em produções para TV, o que chama atenção do diretor do projeto, Sam Sylvia (o ótimo Marc Maron), que já parece um tanto perdido entre as mulheres que escalou para o programa. A trama de GLOW se desenvolve sem pressa, misturando drama, humor, brilhos e laque. Sem complicar demais a história e, visivelmente guardando histórias sobre as personagens para a próxima temporada, você percebe que existem alguns episódios que são menos empolgantes, mas na reta final a série torna-se irresistível em seu tom de crônica sobre um grupo de mulheres que redescobrem a auto-estima nos ringues. Não sei se vocês lembram, mas nos anos 1980 o programa que inspirou a série foi ao ar aqui no Brasil pelo SBT com o nome de "Luta Livre de Mulheres" e tinha uma audiência cativa (pelo menos no meu bairro) e a graça estava no jeito nonsense com que lidava com os estereótipos tão comuns já naquele tempo. Curiosamente, GLOW desconstrói os preconceitos exatamente quando se baseia neles para criar suas personagens para o entretenimento. Alguns ficarão decepcionados pelo programa deixar várias pontas para a próxima temporada, mas isso só aumenta a vontade de ver o próximo round.
Alison Brie: de mocinha comportada à vilã dos ringues.
No outro lado da história está a amiga de Ruth, Debbie (Betty Gilpin) que meio que por acaso entra no programa graças a algum prestígio conquistado em produções para TV, o que chama atenção do diretor do projeto, Sam Sylvia (o ótimo Marc Maron), que já parece um tanto perdido entre as mulheres que escalou para o programa. A trama de GLOW se desenvolve sem pressa, misturando drama, humor, brilhos e laque. Sem complicar demais a história e, visivelmente guardando histórias sobre as personagens para a próxima temporada, você percebe que existem alguns episódios que são menos empolgantes, mas na reta final a série torna-se irresistível em seu tom de crônica sobre um grupo de mulheres que redescobrem a auto-estima nos ringues. Não sei se vocês lembram, mas nos anos 1980 o programa que inspirou a série foi ao ar aqui no Brasil pelo SBT com o nome de "Luta Livre de Mulheres" e tinha uma audiência cativa (pelo menos no meu bairro) e a graça estava no jeito nonsense com que lidava com os estereótipos tão comuns já naquele tempo. Curiosamente, GLOW desconstrói os preconceitos exatamente quando se baseia neles para criar suas personagens para o entretenimento. Alguns ficarão decepcionados pelo programa deixar várias pontas para a próxima temporada, mas isso só aumenta a vontade de ver o próximo round.
Marc Maron: a melhor testosterona do programa.
GLOW (EUA-2017) de Liz Flahive e Carly Mensch com Alison Brie, Betty Gilpin, Marc Maron, Rich Sommer, Sydelle Noel, Kate Nash, Kia Stevens, Ellen Wong e Sunita Mani. ☻☻☻
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