McDowell: apresentando Alex DeLarge.
Meu amigo Marcos certa vez disse que viu Laranja Mecânica durante a época da ditadura, então que o que ele viu era "praticamente um trailer". Ano passado foi a vez de Luis Felipe dizer que finalmente tinha visto o polêmico filme de Stanley Kubrick pela primeira vez e ouvir alguém dizer "Parabéns, você já é um homem!". Eu poderia escrever um texto inteiro sobre todas comentários que já ouvi em torno do filme lançado em 1971 e que ainda surpreende pela forma ousada com que constrói sua história de violência e uma medida radical para combatê-la. Ainda hoje o filme é capaz de gerar reações bastante controversas pelo que se vê na tela, mesmo na aula de psicologia em que o assisti, lembro do desconforto dos colegas enquanto eu e outros colegas riamos das cenas mais cômicas da história de Alex DeLarge (Malcolm McDowell) e seu bando. Sabe quando você ri e pensa que não deveria? O filme é assim. Na Inglaterra de um tempo futuro não identificado, Alex é o integrante de uma gangue que comete atrocidades por toda a cidade apenas pelo prazer de ser violento com quem atravesse o seu caminho. Além de espancar cidadãos comuns, invadir casas e cometer atos da chamada "ultraviolência", Alex e seus amigos não tem mais o que fazer. A vida do protagonista poderia seguir assim até o fim, até que ele é traído por seus amigos e é submetido a um tratamento revolucionário: o método Ludovico (uma experiência comportamentalista). Surge daí uma das cenas mais famosas do filme - e que foi citada diversas vezes (até mesmo em Os Simpsons): Alex sentado na cadeira e, com olhos sempre abertos por ganchos, forçado a assistir cenas de violência contínua ao som de Beethoven - enquanto o desconforto de seu corpo era potencializado pelo uso de drogas variadas. A partir do tratamento, Alex se tornará totalmente avesso a tudo que indica violência e... Beethoven.
O Bando: O controverso mundo de Burgess/Kubrick
A ironia vem do fato que que ao não ser preso e ser submetido ao tratamento, Alex vive uma prisão diferente, onde ele deixa de ser violento, mas também perde sua reação diante de agressões. Torna-se passivo, um fantoche sem expressão o que mostra-se um efeito colateral do tratamento... ou não? Baseado no livro de Anthony Burgess, Kubrick levava o público a embarcar numa experiência inédita até então. A mistura de perversidade com humor negro num futuro distópico (quando a expressão nem era moda), gerou várias críticas ao filme. Basta assistir à obra para imaginar todo o barulho que algumas cenas geraram há mais de quarenta anos - especialmente a cena em que o protagonista mantém relações sexuais com duas mulheres ao ritmo da Nona Sinfonia de Beethoven (em cena acelerada e ultraeditada que faria Baz Lurhman morrer de inveja) ou as citações deturpadas da Bíblia por Alex para sustentar seu estilo de vida (o que é algo mais comum hoje do que Burgess poderia imaginar). Por essas e outras ousadias que Laranja Mecânica se revela uma experiência cinematográfica incomum, que o faz ainda hoje figurar entre os filmes mais controversos de todos os tempos. Além da história interessante, o filme conta com magnífica atuação de Malcolm McDowell que entrou para a história como um dos maiores injustiçados do Oscar (já que o filme concorreu a melhor filme, direção, roteiro adaptado e direção - o que já foi uma grande surpresa), afinal ele cria um anti-herói tão envolvente quanto repulsivo, o que o torna o filme ainda mais inesquecível. O filme ainda tem linguagem estética única e que ainda hoje serve de inspiração para a cultura pop (como o clipe "The Universal" do Blur , o álbum "Ultraviolence" de Lana del Rey ou título de música do Arctic Monkeys). Laranja Mecânica talvez seja a maior obra-prima de seu diretor.
Alex: o delicado método Ludovico.
Laranja Mecânica (A Clockwork Orange / Reino Unido - EUA - 1971) de Stanley Kubrick com Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, John Clive e Shiela Raynor. ☻☻☻☻☻
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