Mia e Bruce: quebra-cabeça cheio de estilo.
Embora seja o sexto longa metragem da carreira do diretor Atom Egoyan, foi com Exótica que ele ganhou o prêmio da crítica no Festival de Cannes e se tornou famoso mundialmente. De origem egípcia, o diretor cresceu no Canadá e se tornou um dos maiores nomes do cinema daquele país. Embora seus filmes não chamem muita atenção atualmente, Egoyan tem uma capacidade impressionante para construir tensão psicológica. Aqui, ele já demonstrava algumas temáticas que apareceriam em vários de seus filmes posteriores - talvez a mais forte delas seja o desejo reprimido motivando crimes. Exótica é na verdade o nome de um clube onde mulheres dançam com pouca ou nenhuma roupa, mas que possui regras bem rígidas - é proibido tocar nas mulheres, por exemplo - e o roteiro conta um pouco sobre algumas pessoas que se conhecem naquele universo bastante peculiar. Assim conhecemos Francis (Bruce Greenwood) que cai de amores por Christina (Mia Kirshner) uma das garotas que trabalham por lá. Ele nem imagina que Christina também é a funcionária favorita de Eric (Elias Koteas), o DJ e administrador do local em parceria com a grávida Zoe (Arsinée Khanjian). Francis nem imagina que uma tragédia do passado estabeleceu um certo laço com aqueles personagens. Fora dali, Francis mantém amizade com uma adolescente (Sarah Polley, que também protagonizou a obra-prima de Egoyan: O Doce Amanhã/1997) e um homem (Don McKellar) que terão participação importante nas peças que o filme encaixa até o final. Egoyan demonstra aqui total controle da narrativa, evocando uma atmosfera noir e referências do universo de David Lynch (a lentidão, os silêncios, a densidade sexual, os personagens que sempre parecem revelados pela metade...), costurando as relações até revelar como tudo se encaixa na cena final. Neste cenário o desejo proibido tem um papel importantíssimo e ajuda a tornar a narrativa ainda mais envolvente e, até, ameaçadora. Destaque do elenco, Bruce Greenwood está ótimo como o homem perdido entre o passado e o presente, ainda sem entender muito bem alguns acontecimentos que ainda o assombram. Da mesma forma, o discreto Thomas (McKellar) também demonstra estar totalmente deslocado em sua sexualidade, evitando envolvimentos mais profundos - mesmo que seu ambiente seja fora do mundo paralelo de Exótica. Lembro quando o filme chegou ao Brasil e foi classificado como thriller erótico (gênero que estava no moda em meados dos anos 1990) e deixou muita gente decepcionada (afinal ele não possui cenas de sexo), afinal trata-se de um suspense psicológico que se revela um drama de traço bem forte. Cult dos anos 1990 o filme pode até parecer um pouco datado, mas continua envolvente e com uma das trilhas sonoras mais interessantes do final do século XX.
Exótica (Expotica/Canadá - 1994) de Atom Egoyan com Bruce Greenwood, Elias Koteas, Don McKellar, Mia Kirshner e Sarah Polley. ☻☻☻☻
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