Hemsworth: densidade para quê?
Muita gente deve ter ficado assustada quando a Marvel anunciou que o neozelandês Taika Waititi (diretor do hilário O Que Fazemos nas Sombras/2016) fora escolhido para capitanear a terceira aventura do Deus do Trovão nos cinemas. Quem é mais ligado em HQ tremeu ao recordar que a trama de Ragnarok nos quadrinhos é bastante sombria por se do fim do mundo, ou melhor, de Asgard. Se a primeira aventura de Thor foi criticada pelo tom solene (que eu adoro), quase shakespeariano (cortesia do diretor Kenneth Branagh) e o baixo apelo do filme gerou o confuso Thor: O Mundo Sombrio/2013, mas o resultado foi pior que o esperado. Ali a Marvel já pensava em investir em gêneros diferentes para seus filmes, o que foi consolidado com os bem-humorados Guardiões da Galáxia (2014) como aventura de Ficção Científica e Homem-Formiga (2015). No fim das contas, o humor foi a saída para Thor e sua turma, já que ao escalar Waititi, a Marvel não teve pudores de fazer sua comédia rasgada de herói – o que chega a ser uma ousadia, já que os fãs da editora já começaram a se manifestar com as piadinhas recorrentes do universo cinematográfico da editora. No entanto, diante do sucesso de Thor Ragnarok, parece que o Deus do Trovão finalmente encontrou o seu caminho da salvação nas bilheterias. É verdade que o filme funciona, é divertido, despretensioso , mas tem como maior desafio não cair no pastiche de um herói já trabalhado em quatro filmes anteriores, neste ponto, Chris Hemsworth demonstra estar totalmente a vontade para trabalhar o personagem com mais humor. Penso que o mais difícil seria um diretor construir uma atmosfera apropriada para isso com um apocalipse iminente, mortes a todo instante, um personagem que é derretido vivo e outro que perde o olho. A sorte é que Waititi dá conta do recado com seu visual colorido, as piadinhas de matinê, uma vilã deliciosa e Led Zeppelin de trilha sonora. O resultado pode não ser genial, mas consegue ser, ao menos, equilibrado. Para começar a resolução do gancho deixado em O Mundo Sombrio não empolga e é resolvida logo no segundo ato do filme (que também é o mais aborrecido - deixando claro que eles não faziam a mínima ideia do que fazer ao terminarem a segunda aventura). Logo depois começa o que interessa com a chegada de Hela, a primogênita de Odin (Anthony Hopkins) que retorna de seu exílio forçado para dominar Asgard – nem que para isso tenha que eliminar boa parte da população. Responsável por dar vida à Hela, Cate Blanchett está visivelmente se divertindo bastante com a personagem (só espero que ela tenha chance de voltar em outros filmes e aproveitar ainda mais todo o potencial da Deusa da Morte). Diante dela, até o charme de Loki (o ótimo Tom Hiddleston, insolente como sempre) parece menor – mesmo porque o roteiro insiste em repetir a rotina de atos do personagem como um círculo vicioso. Ao lado desta pendenga familiar (que era o grande ponto do primeiro filme), o roteiro amplia generosamente o universo dos personagens, os tratando menos como deuses e mais como alienígenas num cosmo marvelesco em expansão. Há muito do visual e do humor de Guardiões da Galáxia no filme, especialmente quando está em cena o Grandmaster (Jeff Goldblum em mais um icônico personagem) em seu passatempo de criar lutas para o entretenimento do seu povo que vive num planeta lixão - que cultua Hulk (Mark Ruffalo), em analogia ao clássico Planeta Hulk – e acolhe a misteriosa Valkyria (Tessa Thompson). Enfim, com todas as suas camadas e personagens, Thor: Ragnarok é a brincadeira dos sonhos de Taika Waititi com suas action figures de infância. A sorte é que ele nos convidou para assistir seu devaneio bastante criativo.
Blanchett: a irmã malvada!
Thor: Ragnarok (EUA-2017) de Taika Waititi com Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Cate Blanchett, Mark Ruffalo, Tessa Thompson, Jeff Goldblum, Idris Elba, Anthony Hopkins, Benedict Cumberbatch e Matt Damon. ☻☻☻
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