Pattinson: ator de respeito!
Embora a imprensa alardeasse que Robert Pattinson poderia levar o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes por seu trabalho em Bom Comportamento, não percebi grande surpresa da mídia ou do público diante da afirmativa. O motivo é bem simples, nos últimos anos o galã juvenil da saga Crepúsculo (terminada em 2012) realmente se tornou um ator a ser respeitado. Sua receita foi ousada, já que se afastou de todos os papéis que remetessem ao papel que o tornou famoso. Fugindo de comédias românticas como quem foge da cruz, Pattinson trabalhou em produções indies com diretores conhecidos por trabalhos radicais. Na guinada de sua carreira, as parcerias com o canadense David Cronenberg foram primordiais, já que Cosmópolis/2012 e Mapas Para as Estrelas/2014 foram importantes para mostrar às fãs adolescentes que o caminho do moço era outro. Depois dos elogios já conquistados por The Rover (2014) e Z- A Cidade Perdida (2017), Pattinson encara desta vez o desafio de encarnar outro personagem marcante neste drama marginal dos irmãos Safdie. Benny e Josh Safdie estão em ascensão no cinema americano e parte disso é por conta dos elogios recebidos por Amor, Drogas e Nova York/2014 (um verdadeiro exercício de paciência sobre a jornada autodestrutiva de uma jovem autodestrutiva). A dupla apresenta um estilo realista com muitos, planos fechados e cenas bastante cruas, sem compromisso com a glamourização da história. Mergulhar num universo assim rendeu uma atuação marcante para Pattinson na pele de Connie Nikas, um ladrão que tem o dia mais agitado de sua vida após assaltar um banco. Para Connie e o irmão, Nick (Benny Safdie) tudo começa a dar errado já na fuga (antes mesmo dos créditos apareceram), rendendo a prisão de Nick - um rapaz que visivelmente tem comprometimentos mentais. A partir daí, Nick precisa conseguir o dinheiro para pagar a fiança do irmão, mas uma sucessão de acontecimentos imprevisíveis comprometem seu objetivo - seja envolvendo sua namorada (Jennifer Jason Leigh) ou os desconhecidos que atravessam o seu caminho (destaque para Buddy Duress, que se transforma no seu parceiro involuntário). Os irmãos diretores demonstram maior segurança na condução da história, mantendo sempre um ritmo urgente e um trabalho interessante com cores e sombras durante a desesperada jornada do protagonista. O roteiro também é bastante convincente na sucessão de complicações em que o personagem se mete, mas de nada serviria se não contasse com a segurança de Pattinson ao encarnar um personagem complicado. Embora Connie esteja mais preocupado em libertar o irmão do que com qualquer outra coisa, seu personagem tem tantas atitudes equivocadas que surpreende como Pattinson desaparece no personagem, ao ponto de eu não conseguir cogitar melhor escolha para o papel. Connie está no extremo oposto de tudo que o seu vampiro romântico representava para o cinema no início da década, de forma que até a polêmica cena em que seduz uma adolescente de 16 anos parece uma provocação de como o astro cresceu e não é mais o ídolo juvenil de outrora (pois é, ele já tem 31 anos). Mudar a carreira de forma tão radical em cinco anos não é tarefa para qualquer um.
Bom Comportamento (Good Time/EUA-2017) de Benny e Josh Safdie com Robert Pattinson, Benny Safdie, Jennifer Jason Leigh, Taliah Webster e Barkhad Abdi. ☻☻☻☻
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