Spielberg: a construção de um mito.
Lá pela metade do documentário sobre o diretor Steven Spielberg alguém diz que ele revolucionou o cinema. Os mais críticos vão achar que é puro puxa-saquismo, mas a afirmação está longe de ser um engano. Quando Spielberg fez de Tubarão (1975) um sucesso, depois da conturbada, com orçamento ultrapassado, cronograma estourado e todo tipo de dificuldade que filmar no mar possa gerar, nascia ali uma forma diferente de pensar, fazer e lançar um filme. Depois de Tubarão o verão americano nunca mais foi o mesmo, assim como os filmes de entretenimento. Foi com o trabalho de Steven Spielberg que a expressão arrasa-quarteirão (ou blockbuster) ganhou sentido, assim como o avanço de efeitos especiais para garantir o espetáculo na tela grande. É verdade que ao abrir esta porta a percepção do cinema para o público também foi alterado para sempre, assim como para os produtores que criaram uma nova fórmula para gastar e gerar lucro. Por todo o impacto provocado pela sua forma de fazer cinema, torna-se mais do que compreensível que exista um documentário sobre este diretor, produtor e roteirista. Nascido em 1946 no estado de Ohio (EUA), Steven Allan Spielberg é o foco deste trabalho da produtora Susan Lacy, que conta com com entrevistas do diretor, familiares (curiosamente a esposa Kate Capshaw ficou de fora), amigos e colegas de trabalho que são pistas sobre a identidade de um verdadeiro workaholic que não para de trabalhar! O filme ainda se beneficia bastante do uso de imagens dos filmes do diretor, que se tornam o grande destaque do documentário , que vão das ambições do menino que fazia filmes na infância antes de crescer e fazer trabalhos para a TV, foi com seu primeiro longa na telinha, Encurralado (1971), que lhe obteve prestígio suficiente para migrar para o cinema. O filme não mostra como é curioso que, aos poucos, o diretor encontrou a necessidade de fazer filmes sérios, surpreendendo a grande maioria de seus fãs. Foi assim que surgiram o excelente A Cor Púrpura (1985), o fracasso Império do Sol (1987) - que revelou Christian Bale - e o esquecido Além da Eternidade (1989) que nem é mencionado neste documentário - esta é outra curiosidade desta homenagem da HBO, já que outros filmes problemáticos do diretor passam batido (como O Mundo Perdido/1997 e O Terminal/2004, enquanto Hook - A Volta do Capitão Gancho/1991 e As Aventuras de Tintin/2011 aparecem em poucos segundos, mas... quem liga?). Quem curte cinema vai delirar com a parte em que se aborda a amizade entre Spielberg, Scorsese, Coppola, George Lucas e DePalma, um grupo de cineastas amigos que ajudou a dar uma nova cara ao cinema americano nos anos 1970. O filme é bem mais discreto quando o assunto é a vida pessoal do diretor, no entanto, ainda é capaz de vermos de onde nasce as motivações para o retrato da família americana em seus filmes, além de sua dificuldade em se posicionar quando aborda temas polêmicos em seus filmes - Munique (2005) é o melhor exemplo destacado no filme, talvez Spielberg ainda não tenha superado sua necessidade de agradar a todo mundo (o que é previsivelmente impossível). Ao final do documentário temos uma dimensão dos motivos que fizeram Spielberg se tornar um diretor que deu ao entretenimento o nível de arte, traçando um patamar para tantos outros diretores que surgiram após seus primeiros trabalhos.
Spielberg (EUA-2017) de Susan Lacy com Steven Spielberg, Martin Scorsese, Brian DePalma, George Lucas, Leonardo DiCaprio, JJ Abrams e Richard Dreyfuss. ☻☻☻
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