Hanks, Watson e Oswald: boas ideias subdesenvolvidas.
Não foram poucos os que me advertiram que O Círculo era uma verdadeira bomba, mesmo assim me aventurei a assistir e agradeço a todos os meus amigos que queriam evitar que eu perdesse meu tempo com esta experiência cinematográfica frustrante. O filme tem uma premissa interessante sobre uma jovem que vai trabalhar num verdadeiro império tecnológico, uma empresa que pretende agregar em uma espécie de rede social os comentários, popularidade, vídeos, relacionamentos, fotos e todo o resto que o mundo real tem a oferecer. Agora, a empresa que já está satisfeita com o domínio sobre o comportamento das pessoas, pretende expandir para o campo da política também. A protagonista é vivida por Emma Watson e o patrão dela é vivido por Tom Hanks, ou seja, de elenco o filme tinha a promessa de funcionar mas... não é bem assim. Apesar da ideia interessante (que parece uma mistura de episódios da série Black Mirror) o roteiro não faz a mínima ideia de qual caminho seguir e se perde em todos eles. Mae (Watson) aceita uma proposta de trabalho sem hesitar e apesar do estanhamento inicial, logo está participando de um experimento que tornará sua vida um reality show. Neste momento o filme parece que irá embarcar pelo caminho de criticar a dicotomia entre o excesso de exposição e a vida privada (embora Mae não tenha a mínima noção do que seja isso), nada disso. Não ajuda o fato de Mae passar por tanta coisa de forma tão apressada, a cada desventura a personagem recebe uma resolução e uma mudança de comportamento em questão de minutos - o que não convence, rendendo o pior desempenho da carreira de Emma Watson (totalmente perdida nas mudanças bruscas de sua personagem). É tudo tão apressado que aos poucos o filme vai abandonando suas possibilidades de ser uma análise contundente ao mundo que cultua a tecnologia como um deus e tem a pressa como um dos seus valores mais importantes, mas, ironicamente a pressa é um dos maiores problemas do filme, isto fica claro desde que somos apresentados à insuportável Annie (Karen Gillan), uma workaholic tagarela que mais tarde descobrimos que anda exagerando no consumo de estimulantes - e o que poderia ser um retrato de como esse ritmo frenético pode adoecer vai por água abaixo com o desenvolvimento insatisfatório da personagem. Infelizmente o pior de tudo fica para o final, quando o filme precisa se posicionar sobre o exagero de deixar o mundo virtual ditar o ritmo de sua vida, mas ele sai pela tangente de denunciar corrupções de grandes empresários quando na verdade seu tema era outro. Será que ele realmente acredita que sendo vigiados seremos pessoas melhores? O Círculo se perde em muitas voltas para não chegar a lugar algum. Não consegue ser uma crítica, não consegue ser politizado, não consegue ser cômico, tenso ou interessante. Talvez não seja por acaso que no meio de tantas ideias e informações o filme consiga ser nada. O pior de tudo é que o filme é dirigido por James Ponsoldt, que tem acertado em seus filmes anteriores, sobretudo no que antecedeu este, o sensível O Fim da Turnê (2015).
O Círculo (The Circle/EUA-2017) de James Ponsoldt com Emma Watson, Tom Hanks, John Boyega, Patton Oswald, Glenne Headly, Bill Paxton, Karen Gillan e Ellar Coltrane. ☻
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