Hawke: melhor atuação de seu currículo.
Alguns críticos perceberam chances de Ethan Hawke ser lembrado nas premiações pela atuação neste longa metragem do canadense Robert Budreau. Quando Born to be Blue começou a ser exibido em festivais, foi ressaltada a forma peculiar de contar um pouco da história do jazzista Chet Baker, os elogios logo começaram a aparecer, mas o filme acabou esquecido pelos distribuidores e restrito ao lançamento discreto em poucas salas nos Estados Unidos. Inédito nos cinemas brasileiros, agora podemos assistir via streaming este belo trabalho de Hawke, que está em um dos seus melhores momentos como o músico de vida cheia de tropeços. O roteiro do próprio cineasta recria uma retomada na carreira do lendário instrumentista em meados dos anos 1960, onde já enfrentava problemas com a polícia e com o vício em drogas pesadas. A trama conta a tentativa de se fazer um filme sobre a vida de Baker estrelado pelo próprio, as cenas em preto e branco correspondem a esta dramatização e as coloridas são os bastidores da vida real - em que Chat começa a se envolver com sua co-estrela (Carmen Ejogo) - que lembra muito sua ex-mulher, Carol Baker. O filme é narrado entre a ficção e a realidade numa bela tentativa de fazer uma biografia fora da cartilha do gênero e funciona! O relacionamento amoroso do filme está lá realmente para mostrar um lado diferente do biografado, que além do vício em drogas enfrentou problemas com a dentição desde pequeno e, no decorrer da vida, teve que se acostumar com uma prótese que lhe provocava dores e sangramentos quando tocava - ao ponto dos médicos considerarem que jamais seria capaz de tocar novamente. Além de enfrentar problemas pela reputação, morar numa kombi com a amada e ter que provar que seria capaz de dar a volta por cima, o filme aborda ainda o relacionamento do músico com os pais, com a música e apetite sexual sem sensacionalismos, mas dificilmente tudo funcionaria se Ethan Hawke não estivesse ótimo em cena! Ele capta o modo do personagem falar, andar e tocar, fazendo com que as belas músicas que costurem a narrativa de maneira exemplar (destaque para a maravilhosa My Sweet Valentine que rende um dos momentos mais emocionais do filme) e acentua ainda mais a melancolia da trajetória deste gênio da música. Sempre achei Hawke um ator mediano, mas de uns tempos para cá, ele demonstra que a maturidade (está com 47 anos) lhe fez muito bem. Há de se destacar ainda que Carmen Ejogo mostra-se mais uma vez uma atriz que merece toda a nossa atenção e até o pouco lembrado Callum Keith Rennie está muito bem como o empresário amigo do protagonista. O título Chet Baker - A Lenda do Jazz pode se tornar uma armadilha para alguns, já que o tom grandiloquente tem pouco a ver com o tom intimista do filme, que está bem mais próximo do original Born to be Blue (Nascido para ser Triste). Se você quer conhecer mais sobre a vida do músico, vale procurar o documentário Let's Get Lost (1988) que foi indicado ao Oscar pelo belo trabalho de entrevistas com familiares e amigos do trompetista.
Chet Baker - A Lenda do Jazz (Born to Be Blue / Canadá, Reino Unido - 2016) de Robert Budreau com Ethan Hawke, Carmen Ejogo, Callum Keith Rennie e Kevin Hanchard. ☻☻☻☻
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