domingo, 17 de junho de 2018

CICLO DIVERSIDADESXL: Heartstone

Baldur e Blaer: amizade sob ameaça. 

Li várias críticas positivas destinadas a este filme islandês, mas, ainda assim, fui assistir com um pouco de desconfiança. Sorte que ela logo se dissipou diante da bela construção realizada pelo diretor e os atores, com ajuda de bucólicas locações emolduradas por uma bela fotografia. Talvez Heartstone pudesse ser um pouco mais curto, mas ainda consegue ser uma história envolvente sobre dois amigos que começam a ter suas primeiras aventuras amorosas - e tudo se complica quando um deles se descobre apaixonado pelo outro. O filme lida de forma bastante delicada e respeitosa com a situação, obtendo um resultado bastante sincero sobre a amizade dos dois meninos. Thor (Baldur Einarsson) é o melhor amigo de Kristján (Blaer Hinriksson), os dois vivem num vilarejo perto da gélida costa da Islândia e não há muita coisa o que se fazer por lá além de passar o tempo brincando com outras pessoas de sua idade ou arrumando encrenca com quem não pertence à mesma turma. De vez em quando os dois flertam com duas garotas da vizinhança e aprendem a lidar com os primeiros jogos de sedução de forma muito mais desastrada do que propriamente sensual. São em algumas brincadeiras que Thor começa a desconfiar que Kristján sente algo mais do que amizade. Seja por conta de um comentário, um toque ou um olhar, talvez o próprio lourinho esteja perdido entre os sentimentos que nutre pelo amigo. Também não ajuda muito o fato de recentemente um homem da vizinhança ter sido alvo de agressões pelo fato de ser homossexual - o que passa a povoar a mente dos moradores como um verdadeiro fantasma. Os adultos da região também não ajudam muito, são carrancudos e não costuma conversar muito com os filhos que estão com os hormônios a flor da pele, a própria mãe de Thor não parece entender  que o filho está crescendo - e as irmãs costumam implicar com ele o tempo todo. Com tantas relações ásperas, fica fácil entender as emoções de Kristján - que podem gerar decisões extremas. O filme constrói sua história vagarosamente, entre uma festinha aqui, uma briga ali, uma travessura, alguns desentendimentos, flertes entre meninos e meninas das redondezas, mas deixa Kristján cada vez mais desconfortável. Embora possa exagerar na melancolia, Heartstone é bonito de assistir, mescla as emoções de seus personagens às paisagens locais e funciona bem como um rito de passagem, um período de descoberta que pode mudar a forma como nos relacionamos com o mundo e como o próprio mundo se relaciona conosco. Ganhador de mais de trinta prêmios internacionais (incluindo no Festival de Veneza), Heartstone merece atenção pela sua sutileza. 

Heartstone (Hjartasteinn / Islândia - Dinamarca / 2016) de Guðmundur Arnar Guðmundsson com  Baldur Einarsson, Blær Hinriksson, Diljá Valsdóttir e Soren Mallig. ☻☻☻☻

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