quarta-feira, 13 de junho de 2018

CICLO DIVERSIDADESXL: Pariah

Kim e Adepero: mãe e filha no filme de estreia de Dee Rees. 

Alike (Adepero Oduye), ou apenas Li, é uma adolescente de dezessete anos que tem cada vez mais certeza do seu interesse por outras garotas e, por ser adolescente, ela parece ainda mais sensível ao mundo que a cerca. Está atenta às conversas das garotas nos corredores da escola, engana os pais para frequentar uma boate mal falada que abriu nas redondezas e tem uma fiel escudeira, Laura (Pernel Walker), que é considerada uma péssima influência por sua mãe atenciosa, Audrey (Kim Wayans). Embora o filme destaque a sexualidade da personagem, Li é apresentada como uma adolescente igual a muitas outras. Cheia de inseguranças, seja com a aparência ou com os caminhos que seu coração teima em seguir, ela aprendeu rápido em como deve se vestir e se comportar de acordo com o olhar de quem está por perto, mas, ainda assim, o difícil mesmo é lidar com o crivo constante da mãe, que atenta às mudanças no comportamento da filha, insiste para que Li mude de amizades e se aproxime da filha de uma colega de trabalho, Bina (Aasha Davis). Alike gosta de escrever poesia, aprecia  músicas diferentes do que toca nas rádios e parece um tanto deslocada mesmo quando está no meio de pessoas que, supostamente, compartilham com ela a mesma identidade sexual. Quanto mais a câmera segue Li, solta aos olhos o que há de mais interessante neste belo filme de estreia da cineasta Dee Rees: o carinho com que ela observa os personagens. Rees é tão zelosa com seus personagens que não tem receio de dividir o protagonismo da história entre mãe e filha, mostrando o quanto o mundo também pode ser áspero para as duas, independente da identidade sexual. Afinal, Audrey casou com o homem de sua vida, teve duas filhas, trabalha, cuida da casa, frequenta a igreja e pensa estar fazendo o certo enquanto o marido está cada vez mais distante - tanto que até uma conversa sobre a noite de formatura logo se torna fumaça quando a família está reunida no jantar. A novata Adepero Oduye (que foi indicada ao Independent Spirit Awards pelo seu desempenho) está ótima em cena, nunca limitando a personagem à sua sexualidade. Da mesma forma, Kim Wayans está surpreendente como Audrey e suas insatisfações. Todo momento em que as duas dividem a cena é de uma sintonia que pode ser tão bela quanto dolorosa, permitindo algumas leituras bastante ricas nas entrelinhas do relacionamento entre mãe e filha. Além de abordar a descoberta da sexualidade na adolescência, o filme lida com temas como preconceito, família, religião, segregação e identidade com bastante sensibilidade. Dee Rees já demonstra a mesma firmeza que apresentou no recente Mudbound (2017), que a consolidou como uma das cineastas que mais merecem atenção na atualidade. Além dos méritos no trabalho com os atores e construção da narrativa, Pariah também possui elementos autobiográficos, o que contribuiu bastante na construção da atmosfera emocional que o filme carrega.

Pariah (EUA-2011) de Dee Rees com Adepero Oduye, Kim Wayans, Pernel Walker, Aasha Davis e Charles Parnell. ☻☻☻☻

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