Andra como Billie: salvando o filme. |
Lee Daniels começou a sua carreira no cinema como produtor em 2001 com o filme responsável por dar o primeiro Oscar de Melhor Atriz à uma mulher afro-americana, no caso Halle Berry por sua antológica performance em A Última Ceia. Em 2005 estreou na direção com Matadores de Aluguel, que não chamou atenção das premiações, ao contrário de seu trabalho seguinte. Com Preciosa (2009) ele foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor (ganhou os prêmios de roteiro adaptado e atriz coadjuvante para Mo'Nique, além de ter concorrer à melhor atriz (Gabourey Sidibe) e melhor edição. Considerado comovente, brilhante e realista por alguns, outros acharam o filme um grande exagero melodramático. Depois ele fez um projeto arriscado que caçava um diretor há tempos (Obsessão/2012 , que gosto bastante) e realizou O Mordomo da Casa Branca (2013). Criticado por ambos, ele se aventurou por programas televisivos de sucesso e agora retorna ao cinema com Estados Unidos Vs Billie Holiday, filme que coloca a estreante Andra Day no páreo de melhor atriz deste ano ao viver a lendária diva do blues. O filme conta a história do período em que a cantora começou a chamar atenção do FBI por conta de sua música Strange Fruit, em que denunciava o racismo em seu país. Por conta das polêmicas foi proibida de cantar a canção, foi retirada do palco, presa por mais de um ano e perdeu a sua licença de cantar em casas de show. Só por isso o filme já teria uma forte carga dramática - e a densidade ampliada pelos problemas da diva com álcool, drogas e homens nem sempre bem intencionados (um deles é até um agente do FBI designado para auxiliar no processo de desmoralização nacional da estrela). Basta os primeiros minutos para ver que Andra Day dará conta do recado ao elaborar uma construção vigorosa de uma personagem complexa e cheia de camadas (o que ajuda a relevar até os momentos mais desconjuntados da narrativa). Infelizmente o filme não é só a jovem atriz. A montagem do filme é bastante problemática e evidencia a carência de um roteiro bem estruturado, que compromete bastante a segunda hora de projeção. Ao apresentar a "realidade da cantora", Lee Daniels pesa a mão nas interpretações, na fotografia, na cenografia e confere uma artificialidade sórdida ao que apresenta - e em certos momentos beira o grotesco. O filme não flui, ele emperra com o peso do exagero e recai nos ombros de sua atriz principal a responsabilidade de não terminar soterrada pelo tom apelativo de vários momentos. O filme acaba trabalhando involuntariamente com o contraste do glamour de Billie nos palcos (com figurinos magníficos) e o mundo desagradável de quem estava ao seu lado fora dele. Some isso aos coadjuvantes que não se desenvolvem como deveriam (o agente de Trevante Rhodes é completamente desperdiçado em seus dilemas), a longa duração e a superficial abordagem da "guerra contra as drogas" associada à imagem da diva que a coisa só complica. Não por acaso as premiações lembraram somente de Andra Day (ela já ganhou um Globo de Ouro pelo papel e tem chances no Oscar), afinal, se impor nesta cinebiografia oscilante foi um desafio a mais para esta novata que recebe aqui seu primeiro grande papel nos cinemas.
Estados Unidos Vs Billie Holiday (The United States Vs Billie Holiday / EUA - 2020) de Lee Daniels com Andra Day, Leslie Jordan, Trevante Rhodes, Natasha Lyonne, Dusan Dukic, Da'Vine Joy Randolph e Garrett Hedlund. ☻☻
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