domingo, 11 de abril de 2021

.Doc: Professor Polvo | Crip Camp

 
Professor Polvo: conectando-se à natureza. 

Apesar de ter sido um ano desastroso para o cinema, o ano de 2020 apresentou uma ótima safra de documentários - o que deixou a lista de concorrentes ao Oscar 2021 cheia de possibilidades e, posteriormente, surpresas. Dentre todas as opções que tem em seu imenso catálogo documental (que não para de crescer), a Netflix cravou duas produções dentre os prediletos da Academia: Professor Polvo e Crip Camp. Como já disse anteriormente, estou em dívida faz tempo com Professor Polvo, já que o assim que ele estreou em setembro do ano passado e  não escrevi sobre ele por aqui. Dirigido pela dupla Pippa Ehrlich e James Reed, o filme primeiro chama atenção pela belíssima fotografia e as paisagens litorâneas, para depois se sustentar na amizade inusitada entre um homem e um polvo. O homem em questão é Craig Foster, um cineasta que passou a infância bem próximo do Oceano Atlântico e numa fase complicada, ele retorna para aquela localidade para relaxar. Em um de seus mergulhos ele encontra um polvo e nem imagina o laço que se formará entre os dois, que se encontrarão diariamente. O amigo aquático irá lhe ensinar muitas coisas sobre a vida no fundo do mar, desde camuflagens e truques variados até perigos que existem por ali - em que por vezes o polvo é presa ou predador. Nesta história real de reconexão de homem com a natureza, a produção apresenta uma delicadeza ímpar, sem deixar de surpreender com momentos de suspense e outros bastante dramáticos. Professor Polvo ensina que mesmo num aparente paraíso natural, a vida tem seus percalços e armadilhas, dos quais precisa sobreviver e seguir em frente. São neste momentos que a plateia fica mais angustiada, já que diretores não interferem (aparentemente) em nada do que acontece diante da câmera, o que nos deixa bastante preocupados com o destino do polvo em sua rotina marinha. É um filme bastante diferente dos outros concorrentes ao Oscar, já que não se dedica à denúncias e causas sociais. Se o poético Professor Polvo surpreendeu ao ser indicado, Crip Camp já despontava como forte candidato desde que estreou na Netflix em março do ano passado. Produzido pelo ex-presidente dos EUA Barack Obama e a esposa Michelle, o filme conta a história de uma espécie de colônia de férias para pessoas com deficiência nos início dos anos 1970. O chamado Camp Jened fez história ao oferecer uma oportunidade de diversão e socialização em uma época em que não se falava de inclusão. As pessoas que aparecem no Camp viviam segregadas em instituições próprias ou isoladas em suas casas tendo apenas contato com familiares e atendimentos médicos. Inspirados pela atmosfera de contracultura da época, o movimento hippie e a ideologia de "paz e amor", Camp Jened alavancou o ideal de que pessoas com deficiências também deveriam ter vida social, amigos, diversão, namorar, curtir música, praticar esportes e ter uma vida muito mais interessante do que vivenciavam na época. Localizado na Califórnia, aquele espaço se tornou uma espécie de Terra Prometida para milhões de jovens que participaram de suas atividades ao longo dos anos. O mais exuberante do filme é a riqueza de materiais de arquivo existentes, que desde os primeiros momentos deixa transparecer a importância daquele espaço para um grupo de pessoas marcado pela discriminação até hoje. Não satisfeito com o vasto material de arquivo que possui, Crip Camp: Revolução Pela Inclusão ainda traz entrevistas recentes com pessoas que participaram daqueles momentos e seus relatos sobre a importância que Camp Jened teve para suas vidas. O resultado impressiona ainda mais por trazer um resgate histórico de um fato desconhecido da maioria das pessoas - e isso em tempos em que o discursos de segregação ganham força novamente. Professor Polvo e Crip Camp estão na lista de indicados ao Oscar de documentário ao lado de Time (em cartaz no Prime Video), do chileno O Agente Duplo (disponível na Globoplay) e do romeno Colectiv (que também está no páreo de melhor filme estrangeiro e, por enquanto, indisponível no Brasil). Enfim, um páreo respeitável! 

Crip Camp: conectando-se à vida social. 

Professor Polvo (My Octopus Teacher / África do Sul - 2020) de Pippa Ehrlich e James Reed com Craig Foster e Tom Foster. ☻☻

Crip Camp: Revolução Pela Inclusão (Crip Camp/EUA-2020) de James Lebrecht e Nicole Newnham com  James Lebrecht, Lionel Je'Woodyard e Joseph O'Conor ☻☻

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