Naomi: Quando a vida pesa uma tonelada.
O mexicano Alejandro González Iñárritu tornou-se badalado no mundo inteiro depois que colocamos os olhos em Amores Brutos (2000), uma dessas pérolas cinematográficas que parecem surgir do nada com uma força incomum e que nos transforma reféns por mais de duas horas enquanto acompanhamos o caos de seus personagens, sendo eles humanos ou caninos. Além dos prêmios que conquistou mundo afora, o filme foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro e perdeu para o menos interessante (desculpem fãs) O Tigre e o Dragão de Ang Lee. Posso imaginar que não demorou muito para que um bando de atores começassem a cobiçar um papel no próximo filme de Iñárritú. Como ele tinha em mente uma espécie de trilogia sobre tragédias, ele podia se dar ao luxo de escalar para o mesmo filme nomes cobiçados como Sean Penn, Naomi Watts, Benicio Del Toro e ainda coadjuvantes do porte de Melissa Leo, Danny Huston e Charlotte Gainsbourg. Assim surgiu 21 Gramas, o inevitável passo seguinte ao excepcional Amores Perros. Se em Amores as histórias eram contadas quase que paralelamente, rompendo e reatando elos conforme os núcleos se desenvolviam de forma quase independente, 21 Gramas é o oposto. A edição quebrada mistura os núcleos e constrói sua lógica somente na cabeça do espectador - que tenta juntar os cacos do que sobrou da vida de três personagens principais. Quando o filme se inicia, não sabemos exatamente em que ponto da narrativa seus personagens se encontram, um truque narrativo arriscado, mas que consegue manter o espectador tão desorientado quanto os personagens a que somos apresentados. Tudo gira em torno de um acidente de carro que vitimou o esposo e os filhos de Christina Peck (Naomi Watts), mas que ajudou o professor de matemática Paul Rivers (Sean Penn) a conseguir um transplante de coração. Conforme as peças se encaixam, Christina se afoga na dor (e nas drogas) até que conhece Paul e o torna cúmplice de um plano de vingança contra o homem que provocou o acidente. Ele é Jack Jordan (Benício Del Toro, em seu melhor momento), que não é um sujeito malvado e inconsequente, pelo contrário, é um ex-presidiário que busca sua redenção em torno da fé e conta com o apoio da esposa devotada (Melissa Leo) para melhorar de vida ao lado dos filhos. O acidente torna-se um grande martírio para o personagem, que será perseguido por Paul e Christina no auge do descontrole. Apesar de todos os maneirismos nos fragmentos de suas tramas, o cineasta consegue realizar seu filme mais harmônico - ainda que eu considere que tanta fragmentação acaba complicando a tensão crescente que deveria se instaurar logo de início. Entre os pontos mais interessantes da produção, está o fato de González esconder a câmera em locais inusitados para ressaltar as atuações viscerais de seus atores (com ajuda de uma fotografia estranhamente sombria). Pelo trabalho, Penn e Naomi foram premiados no Festival de Veneza - ela acabou sendo indicada ao Oscar pela sua excelente atuação (as cenas em que parece se torturar com a ausência da família são de despedaçar a alma). Del Toro também tem ótimos momentos e foi lembrado na categoria de coadjuvante no Oscar, mas embora ninguém tenha levado nada (só Sean Penn que com o filme impulsionou sua indicação por Sobre Meninos e Lobos e levou o Oscar de ator para casa) o filme é um belo trabalho onde morte e vida se colidem a cada instante. O título do filme (que na época muitos acharam que fazia alusão ao uso de drogas) é baseado nas pesquisas do físico Duncan MacDougall que (em 1907) constataram que o corpo perde 21 gramas no momento da morte (o que ele acreditava ser o peso da alma). Depois deste filme, Alejandro Gonzalez Iñarritú anabolizou ainda mais o seu estilo em Babel (2006), ultima parte de sua trilogia trágica e da parceria com o roteirista Guillermo Arriaga na construção de personagens com dramas que pesam uma tonelada.
21 Gramas (21 Grams/EUA-2003) com Sean Penn, Naomi Watts, Guillermo Del Toro, Melissa Leo, Charlotte Gainsbourg e Danny Huston. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário