Sabe aqueles filmes que você assiste e imagina que poderia render uma novela que se estende por longos meses. Esta foi a sensação que tive ao assistir Pais e Filhos, filme do premiado Hirokazu Koreeda. Embora seja conhecido por cinéfilos que curtem filmes japoneses, o cineasta viveu seu auge com os prêmios conquistados por Assunto de Família/2018 que ganhou a Palma de Ouro em Cannes e foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Curiosamente os dois filmes têm muito em comum, já que abordam laços familiares como uma questão social e não apenas biológica. Aqui conhecemos o casal Ryota (Masaharu Fukuyama) e Midori (Machiko Ono), pais do pequeno Keita (Keita Nonomiya). A família possui uma vida confortável e sem maiores problemas até que recebem a ligação do hospital em que o menino nasceu. Preocupados, eles nem imaginam que serão informados de uma troca de bebês, no caso os envolvendo o filho de Yukari (Yôko Maki) e Yudai (Lily Franky). A partir deste ponto o roteiro pretende abordar o impacto desta notícia em ambas as famílias e o que deverão fazer para reparar esta situação. Se Yukari e Yudai possuem origem mais humilde e tentam encarar a situação de forma mais positiva (pensam na indenização que pode receber e o coração aceita de bom grado ter mais um filho em sua família de três crianças), o workaholic Ryota tem um olhar diferente sobre aquilo tudo (sua frase “agora faz todo sentido” ecoa por boa parte do filme para horror de sua esposa e da plateia). Além de explorar os contrastes entre as duas famílias e a postura dos casais, Pais e Filhos evolui de forma bastante sutil e natural em seus dilemas até aquele momento inevitável que causa estranhamento e indignação pelas emoções envolvidas. Fica na cabeça do espectador o que faria naquela situação (você trocaria uma criança que você cuidou desde o nascimento por outra que você nem conhece? Deixaria seu filho biológico ser criado por outra família?), além de um nó na garganta perante as crianças que vivem aquela situação. Quando as coisas parecem ter sido resolvidas, os dramas se intensificam e a tristeza é inevitável. Outro ponto curioso sobre o filme é como Koreeda evita o choro em seus personagens, talvez o Japão em toda a sua educação disciplinar faça com que a plateia sinta falta daquele momento de catarse explícita que com certeza aconteceria caso o filme fosse uma novela de Manoel Carlos, mas Koreeda opta por outros caminhos, mais sutis e que demonstram que na verdade aquelas duas famílias poderiam buscar caminhos menos jurídicos e burocráticos (e a parte do tribunal é de fato a menos interessante do filme ao introduzir uma personagem desenvolvida de forma um tanto preguiçosa) para resolver aquela pendenga. O que Pais e Filhos tem de melhor é a simplicidade com que explora assuntos delicados e bastante emocionais.
Pais e Filhos (Soshite chichi ni naru / Japão - 2013) de Hirokazu Koreeda com Masaharu Fukuyama, Machiko Ono, Keita Nonomiya, Yôko Maki , Lily Franky e Ryusei Saiki. ☻☻☻☻
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