Robyn e Mebh: o extermínio de lobos visto de ambos os lados.
Não resta dúvidas de que Soul chegará na cerimonia do Oscar deste ano como o grande favorito. O filme dirigido por Pete Docter já levou para a casa a grande maioria dos prêmios da categoria de ouro da temporada e parece que a Academia também irá se render aos méritos do filme. No entanto, se os Deuses do Cinema permitissem, a animação Wolfwalkers bem que poderia render uma grande surpresa na premiação. Além disso, seria interessante ver uma obra de Tom Moore finalmente sair premiada de uma cerimonia do Oscar. A primeira vez que ele caiu nas graças da Academia foi com The Secret of Kells (2009), filme curtinho de pouco mais de uma hora de duração que muita gente estranhou de ter sido lembrado na categoria de melhor animação por seu traço e histórias esquisitas. Depois ele repetiu o feito com A Canção do Oceano (2014) e não levou. Além das indicações ao Oscar, os três filmes têm em comum várias camadas em que fantasia e folclore se unem na construção de histórias envolventes. A impressão é que com Wolfwalkers o diretor construiu sua obra-prima com a história de Robyn (voz de Honor Kneafsey), filha de um caçador que sonha em seguir a profissão do pai. No entanto, em 1650 é um bocado difícil convencer a sociedade local de que uma menina pode dar conta de enfrentar animais selvagens na floresta. Os dois foram morar na cidadezinha de Kilkenny quando o pai foi convidado para exterminar os lobos da floresta ao lado que anda assustando os moradores que pretendem expandir seus domínios. Se este ponto de partida soa como se fosse mais um filme ambientalista padronizado, a situação se torna completamente diferente quando começamos a acompanhar o ponto de vista dos lobos, principalmente pelo olhar de outra menina, Mebh (Eva Whittaker), que, assim como sua mãe, ao adormecer se transforma em lobo. Além de se transformar em um deles, ela vive com eles escondida na floresta e é capaz de se comunicar com os bichos. Robyn e Mebh irão se estranhar no início, mas não demora para que Robyn perceba que seu pai não está do lado dos mocinhos nesta história. Não vale dizer as surpresas que a trama reserva para as duas amigas, mas podemos ressaltar o belíssimo trabalho nos traços e no uso das cores na construção da narrativa que recebe um tom de aventura incomum para este tipo de filme europeu. Moore ainda utiliza bastante criatividade nos enquadramentos e movimentos para conquistar o espectador. Para além de todos os seus méritos enquanto animação, o filme envolve vários outros elementos que o tornam interessante seu roteiro, desde a abordagem do extermínio de lobos na Irlanda, passando pela forma como o cristianismo perseguiu crenças pagãs e esteve envolvido com o avanço da civilização calcado na destruição da natureza local. Wolfwalkers é um filme interessantíssimo e não duvido que algum produtor ao assistir imaginou "porque nunca pensei em contar esta história em live action?", garanto que se fizerem será difícil superar o ritmo preciso deste aqui. Disponibilizado pela AppleTV o filme é um verdadeiro deleite para quem procura um pouco de novidade no gênero.
Wolfwalkers (Irlanda/Reino Unido/Luxemburgo/França - 2020) de Tomm Moore e Ross Stewart com vozes de Sean Bean, Honor Kneafsey, Eva Whittaker e John Morton. ☻☻☻☻
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