sábado, 29 de janeiro de 2022

PL►Y: Balada do Amor e do Ódio

 
Sergio x Javier: palhaços temperados com amor e ódio. 

Quem era atento ao cinema espanhol dos anos 1990 deve lembrar de Alex de la Iglesia aparecendo por aqui assinando filmes que causaram estranhamento como Ação Mutante (1993), O Dia da Besta (1995) e Perdita Durango (1997). Seus três primeiro filmes deixavam claro que o cineasta estava disposto de se distanciar do cinema espanhol conhecido pelos trabalhos de Pedro Almodóvar (que começava a ficar mais sério) e investir cada vez mais numa criatividade absurda. Seus personagens estavam longe de se render à compreensão mais tradicional, eram perdidos, erráticos, contraditórios, caricatos, insanos... foi calcado nas ações deste tipo de personagens que o cinema de Iglesia se tornou popular ao redor do mundo e chegou, em 2010 a lhe render (para surpresa geral) os prêmios de roteiro e direção no Festival de Veneza, além de concorrer ao Leão de Ouro (prêmio máximo do Festival) e ser indicado a 15 categorias do Goya (o Oscar espanhol). Conhecendo o histórico do moço, fiquei curioso de ver o que ele fez para conquistar de vez a atenção de quem costumava ver seu cinema com ressalvas. Os fãs devem ter respirado de alívio ao perceberem que Iglesia continua o mesmo, mas conseguiu dar um polimento ainda mais refinado ao que seu cinema poderia ter de irônico. É verdade que o título brasileiro consegue ser uma tragédia ao alterar o título original, mas pelo menos consegue captar o clima existente entre os dois palhaços que movimentam a trama. Na verdade, ele começa acompanhando o pai de um deles, que também era palhaço e, no meio de uma apresentação no circo repleto de crianças, vê seu espetáculo ser interrompido pelo exército no meio da ditadura franquista para escalar os artistas circenses para uma batalha. Óbvio que Iglesias não dá a chance de ninguém trocar de roupa, rendendo uma das cenas de combate mais surreais da história do cinema. Com os palhaços agindo como soldados numa guerra, o filme ainda parece manter alguma seriedade até que descobrimos que aquela é só a introdução sobre fatos marcantes da infância de Javier (Carlos Areces), cujo pai deixou claro que o menino não tinha graça para seguir o ofício de sua família (afinal, até o avô dele era palhaço), mas que ele poderia conseguir sucesso como soldado triste de um circo. Eis que Javier já demonstra desde cedo ter raiva do mundo e cria uma situação que irá lhe custar o que resta de sanidade no futuro... crescido ele consegue emprego como o palhaço triste de um circo, mas se apaixona pela esposa do palhaço principal (Antonio de La Torre) do espetáculo. Se no palco seu rival é divertido e atento às crianças, fora do palco ele é apenas Sergio, um homem agressivo e violento (já Javier parece nunca estar muito animado com a vida). Colocadas as personalidades em oposição está feito o conflito que alimentará a guinada insana que o filme sofrerá. Afinal, por caminhos distintos, os dois irão se tornar verdadeiros monstros, desfigurados (física e mentalmente) em suas fragilidades. Fosse um outro diretor, o filme começaria com os dois personagens com suas aparências destruídas lutando pelo amor de uma mulher que agora teme os dois, mas como Iglesia é diferente, ele prefere começar na base da identidade dos personagens  e contar como aqueles se deixaram destruir pela loucura da rejeição. É verdade que existe todo um pano de fundo histórico para a trama, mas ela fica de lado conforme o filme constrói suas guinadas entre gêneros cinematográficos variados. O que começa como comédia se torna drama histórico, vira romance, drama, tragédia, suspense, terror, trash e por aí vai. O grande mérito do filme (além do trabalho excepcional de Carlos e Antonio perdendo as estribeiras sob pesada maquiagem) é demonstrar que debaixo de toda a piração de Iglesias, vive um cineasta de mão cheia capaz de fazer qualquer tipo de filme, mesmo que possa ser visto como exagerado em pouco mais de cem minutos de projeção.   

Balado do Amor e do Òdio (Balada Triste de Trompeta/Espanha - 2010) de Alex de la Iglesia com Carlos Areces, Antonio de la Torre, Carolina Bang, Manuel Tallafé, Enrique Villén, Alejandro Tejerías, Gracia Olayo e Sancho Gracia. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário