Daniel, Keke e Brandon: culpa daquela nuvem.
Jordan Peele continua sua cruzada por criar filmes em que mistura comédia e terror de forma original quando Hollywood preza cada vez menos pela originalidade. Assistir Não, Não Olhe! é um verdadeiro prazer a partir do momento em que não fazemos a mínima ideia para onde a história vai, especialmente por conta daquela cena de abertura que demora muito para que possamos entender a ligação que possui com a história principal. A trama conta a história de dos irmãos Haywood, OJ (Daniel Kaluuya) e Emerald (Keke Palmer) que possuem uma espécie de rancho responsável por adestrar cavalos para trabalhos cinematográficos. O negócio foi herdado logo depois que perderam o pai (Keith David) de forma inexplicável. OJ ainda parece meio fora de órbita depois do acontecimento, deixando que a irmã expansiva tome conta das situações - o que não impede que os negócios comecem a ter problemas. Nas mãos de Peele, paira sobre os dois uma sensação de que algo estranho está por perto e o filme fermenta esta atmosfera por praticamente uma hora, desenvolvendo os laços e suspeitas de seus personagens, além de acrescentar outros dois sujeitos que serão importantes no andamento dos fatos. Um deles é um ex-ator mirim, Ricky Park (Steven Yeun) que cresceu e agora tem um parque temático - aquela cena inicial que citei tem relação direta com ele (e a narrativa hesita o máximo possível em apresentar o que houve e quando revela é de uma brutalidade sugestiva arrepiante. Não duvido que esta história renda algum trabalho futuramente pelas mãos do diretor) e deixa o personagem banhado em uma complexidade que até após seu desfecho permanece um verdadeiro enigma. Outro personagem que aparece é Angel (Brandon Perea) o rapaz responsável por instalar as câmeras de segurança no rancho para descobrir o que está acontecendo por lá. Há quem diga que o filme é o menos engajado de Jordan Peele, mas esqueceram de notar que por baixo de tudo existe uma alegoria sobre a forma como Hollywood colocou debaixo do tapete os cowboys negros dos EUA, aspecto que rende cada vez mais filmes atualmente. Assim, não é por acaso, que o casal de irmãos seja tataraneto do negro que montava um cavalo na primeira imagem registrada por uma câmera na história do cinema. No entanto, Nope tem relação com outro gênero cinematográfico: a ficção científica. Mas ao invés de explorar mais uma vez os discos voadores e seus alienígenas (e o filme brinca bastante com isso com bastante estranheza), opta por algo totalmente novo na abordagem de OVNIs, criando uma gostosa sensação de presenciar a criatividade de Peele na tela. Peele subverte as expectativas do espectador e nos presenteia com uma estética envolvente, assim, junta-se ao colorido e à trilha sonora uma plasticidade que impressiona, até mesmo nos detalhes mais aterradores (as chaves, as nuvens, o banho se sangue sobre a casa, o interior da ameaça que paira por ali...). Não, Não Olhe! (título que como disse a Isabela Boscov merece o troféu "Ai Caramba" do ano) dificilmente será lembrado nas premiações como Corra! (2016), mas ficará na memória de quem buscava uma obra repleta de originalidade nos cinemas de 2022.
Não, Não Olhe! (Nope/EUA-2022) de Jordan Peele com Daniel Kaluuya, Keke Palmer, Steven Yeun, Brandon Perea, Michael Wincott, Terry Notary e Keith David. ☻☻☻☻
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