sábado, 17 de setembro de 2022

PL►Y: Querido Evan Hansen

Ben Platt: cantando sobre saúde mental. 

Imaginar um musical que gira em torno de temas como saúde mental e suicídio parece um tanto estranho mesmo em tempos em que já vimos praticamente de tudo na tela grande. Pois foi com esta matéria-prima que Dear Evan Hansen se tornou um sucesso na Broadway em 2016, principalmente pelo seu elenco e a performance de Ben Platt - que foi agraciado com o Tony por seu trabalho. O sucesso carimbou o passaporte do ator e cantor para o estrelato, fazendo com que estrelasse série na Netflix (The Politician) e filmes em Hollywood. Portanto, nada mais natural que ao anunciarem a adaptação cinematográfica de Querido Evan Hansen alguns envolvidos batessem o pé para que Ben fosse o protagonista. Ironicamente, muitos críticos apontaram a presença do ator um dos maiores problemas desta adaptação, afinal, Ben tinha 26 anos na época das filmagens, praticamente, dez anos a mais do que o personagem principal, um adolescente com ansiedade social e que necessita de acompanhamento médico para manter a sua saúde mental. É visível o esforço de Ben para convencer no papel que já lhe é bem familiar, não por conta de transparecer os dilemas do personagem, mas porque a linguagem cinematográfica é bastante cruel em sua proximidade para evidenciar o que no teatro poderia ser imperceptível: a idade de seu ator principal. Ciente de que o olhar, a voz, a postura e o gestual talvez não dessem conta do rejuvenescimento do ator, apelaram para uma maquiagem que parece estranha até que você decida não dar importância para ela. Assim, Ben vive os dilemas de um adolescente que é solicitado pelo terapeuta a escrever uma carta para si mesmo e, por acidente, acaba a imprimindo na escola e deixando que ela caia nas mãos de um colega bastante agressivo, Murphy (vivido por Colton Ryan). Acontece que Murphy também possui sua cota de mazelas para administrar e, sem dar conta delas, se suicida deixando que a tal carta seja encontrada e confundam Hansen com seu melhor amigo. Começa então uma grande mentira que fará de Evan Hansen uma celebridade local, com direito a campanhas e tudo mais, além de uma colateral aproximação com a família do falecido. Dito tudo isso, fica a ideia de um drama pesado na cabeça do espectador, mas se você lembrar que subitamente o elenco irá cantarolar suas angústias a coisa fica estranha - afinal, na Broadway a ideia pode funcionar, na telona... a artificialidade da proposta fica bastante desconfortável. No entanto, vale destacar alguns pontos que evidenciam o que há de bom na história: a ideia das redes sociais para aproximação das pessoas, mas também para o massacre de indivíduos que passam a ser julgados por isso ou aquilo, a necessidade de uma geração em tornar tudo público (ainda que seja um segredo), a ideia ilusória de que você só importa se for for popular (o que só confunde as inseguranças vinculadas à sua autoestima), além de como o seu estado mental pode ser disfarçado com sorrisos ou agressividades. No entanto, ao optar por sua versão branda de tudo o que abraça, Querido Evan Hansen nunca atinge as notas que almeja. Resta o esforço de Ben e a atuação de Julianne Moore que percebe o abismo em que seu filho mergulha lentamente. Não é o desastre que anunciaram, mas é um filme muito esquisito. Ainda acho que a direção de Stephen Chbosky (de As Vantagens de Ser Invisível/2012 e Extraordinário/2017), contribui para a coisa não desandar de vez, mas deixa a impressão que o rapaz está se repetindo filme após filme e perdendo o fôlego cada vez mais. 

Querido Evan Hansen (Dear Evan Hansen/ EUA - 2021) de Stephen Chbosky com Ben Platt, Julianne Moore, Amy Adams, Kaitlyn Dever, Amandla Stenberg, Colton Ryan e Nik Dodani.  



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