Emma e Daryl: mais do que encontros sexuais.
Eu prometo não comentar sobre a quantidade de filmes que a premissa de Boa Sorte, Leo Grande me fez lembrar. Afinal, a história passada no encontro de dois estranhos num quarto para satisfazer desejos sexuais já foi utilizada várias vezes, seja no cinema ou no teatro. A grande maioria está preocupada em mexer com as fantasias do espectador e, por vezes, conseguem dar profundidade a seus personagens a partir do que se agrega ao sexo como ponto de partida. No entanto, poucas vezes vi um filme conseguir soar tão terno e sincero como Boa Sorte, Leo Grande. Apesar do roteiro atriz inglesa Katy Brand deixar a primeira impressão de que foi feito para o teatro (dois personagens dialogando em um cenário específico a maior parte do tempo), a diretora australiana Sophie Hyde sabe como utilizar esta aparente limitação para um tom mais intimista, como se o mundo lá fora não existisse, mas ainda assim se fazer presente deixando tudo mais revelador sobre os dois personagens que tem em mãos (e defendidos muito bem pelo seu casal de atores). O filme gira em torno dos encontros de Nancy Stokes (Emma Thompson) com um garoto de programa, Leo Grande (Daryl McCormack). Nancy é uma professora com filhos crescidos e que em toda a sua vida teve apenas um parceiro sexual: o esposo. Viúva e sem ter tido um orgasmo na vida, ela considera que já está na hora de saber o que é ter prazer no sexo. No entanto, quando ela se depara com o jovem Leo, seu desconforto é visível. O peso de anos de uma educação conservadora acerca de sua feminilidade é visível. Ela pensa em desistir várias vezes. Conversa sobre assuntos variados. Gagueja. Engasga. Tropeça. Hesita... ainda que esteja muito curiosa em saber como é ter relações com um homem atraente feito Leo. Ele por sua vez, deixa claro que está ali para mais do que fazer sexo, parece que deixar Nancy confortável com tudo aquilo é uma de suas prioridades. Talvez por conta de ter ali uma cliente fixa, ou por conta do desafio de seduzir uma mulher mais velha, ou apenas por querer fazer alguém se sentir confortável consigo mesmo. O filme se desenvolve com a bela dinâmica estabelecida entre os dois personagens e, por vezes, os dois parecem trocar de papéis, seja pela relação de poder ou cumplicidade que se instaura naquele quarto, ou por conta das inseguranças que são tocadas aqui e ali. Aparentemente simples, Boa Sorte, Leo Grande funciona principalmente por conta de sua dupla principal, Daryl McCormack (que pode ser visto na série A Roda do Tempo) prova que é mais do que um colírio para os olhos e oferece uma personalidade cheia de camadas para seu personagem. Terno, educado, envolvente, sedutor e emotivo, a transição de seu personagem torna o filme ainda mais rico no contato com a experiente Emma Thompson, que merece comentários a parte pela coragem em cena. Oscarizada por sua atuação em Retorno a Howard's End (1992) e pelo roteiro de Razão e Sensibilidade (1995) a atriz foi indicada outras três vezes pela Academia, mas anda esquecida por ela desde 1996. A coragem com que oscila entre o drama e a comédia em sua concepção desta inibida Senhora Robinson numa jornada de autoconhecimento é digna de prêmios, se levarmos em conta então sua última cena (uma nudez frontal aos 63 anos de idade) teremos certeza que Emma é uma das atrizes mais destemidas em atividade no cinema atual. A cena não é vulgar, gratuita ou debochada. É uma verdadeira ode ao tempo, à feminilidade e à autoestima.
Boa Sorte, Leo Grande (Good Luck to you, Leo Grande - EUA / Reino Unido) de Sophye Ryde com Emma Thompson, Daryl McCormack e Isabella Laughland. ☻☻☻☻
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