sábado, 24 de setembro de 2022

PL►Y: Paris, 13º Distrito

 
Noémie e Makita: o amor em tempos pós-modernos. 

Nos últimos tempos Jacques Audiard optou por realizar filmes densos, seja qual fora  temática que escolher. Fez a obra-prima criminal moderna O Profeta (2009), mergulhou na intensidade quase melodramática do romance em Ferrugem e Osso (2012) e até abordou o drama de refugiados em Dheepan (2015). Todos eles exibidos em Cannes, todos elogiados e reconhecidos internacionalmente. Ano passado foi a vez dele colher elogios com Paris, 13º Distrito que está em cartaz na MUBI e que opta por uma atmosfera bem mais leve que seus filmes anteriores - mas isso não quer dizer que seja menos interessante. Tudo começa quando Émilie (a estreante Lucie Zhang) decide alugar um quarto de seu apartamento e aparece o professor Camille (Makita Samba). Ela fica surpresa, já que esperava por uma mulher para dividir as despesas, mas não demora muito para que ela acabe se envolvendo com o rapaz. Só que Camille está longe de querer um relacionamento sério com a colega de apartamento, o que começa a gerar conflitos que só pioram quando ele se interessa por uma professora de sua escola. Quando você se acostuma com os dilemas da dupla de amantes, o filme apresenta outra personagem, Nora (Noémie Merlant), estudante de direito que começa a ser confundida com Amber Sweet (Jenny Beth) uma porn star da internet e começa a sofrer as consequências disso. Aos poucos o filme entrelaça a vida destes personagens demonstrando várias possibilidades de romanceo, sem julga-los ou utilizar discursos moralistas, a câmera parece documentar a vida daquele microcosmos seja em momentos triviais ou de grande intimidade. Com personagens que estão longe de ser clichês ambulantes, a narrativa flui com uma leveza impressionante e deixa até saudade quando o filme termina. Audiard conta esta história numa vizinhança que conhece bem (já que morou no bairro que dá nome ao título original, o Les Olympiades) e opta por não mostrar lugares comuns do cinema francês, não existe o Rio Sena ou a Torre Eiffel, mas um grupo de personagens que caminham em ambientações que poderiam facilmente ser confundidas com lugares de diversos espaços do mundo. Os cenários ficam por conta dos prédios, do metrô, uma universidade, uma boate, um call center... e a fotografia em preto e branco deixa a sensação de que ele resolveu fazer um exemplar da nouvelle vague com a cara dos relacionamentos do século XXI, afinal, falando de relacionamentos existe a busca constante por  romance temperada com bastante erotismo. A ideia de contar uma história atual também se percebe no elenco multirracial que estrela o filme e, aparentemente, o longa pode não ter o impacto dos outros trabalhos do diretor, mas em suas mãos, o que poderia ser só mais um filme moderninho fica com a maior cara de obra de arte. 

Paris, 13º Distrito (Les Olympiades / França - 2021) de Jacques Audiard com Lucie Zhang, Makita Samba, Noémie Merlant, Jennye Beth e Camille Léon-Fucien. ☻☻☻☻

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