Rachel e Barry: romance complicado. |
A primeira vez em que assisti um filme com a australiana Rachel Griffiths foi em O Casamento de Muriel (1994) em que ela vivia a melhor amiga da protagonista de Toni Collette. O tempo passou e ela foi indicada ao Oscar de coadjuvante por seu trabalho em Hillary & Jackie (1999) e colecionou prêmios por seus trabalhos nas séries A Sete Palmos (2001-2005) e Brothers & Sisters (2006-2011), mas atualmente ela pode ser vista em The Wilds na Amazon Prime Video. Como se percebe o cinema a deixou de lado faz tempo, mas ela não se importa desde que de vez em quando um papel interessante apareça para vermos como os holofotes nem sempre se voltam para os grandes talentos. Mammal é um desses, um pequeno filme irlandês que colheu elogios em alguns festivais e até concorreu a alguns prêmios em seu país de origem, mas bem que merecia um tantinho mais de atenção por conta dos trabalhos de Rachel e de seu parceiro de cena, o sempre interessante Barry Keoghan. Ela vive Margaret, uma mulher melancólica que trabalha em uma loja modesta e aluga um quarto vazio de sua casa para ganhar algum dinheiro extra. Logo no início já imaginamos o motivo da tristeza que transborda da personagem, por conta de uma cicatriz e da casa solitária em que vive, tentamos imaginar a triste história que se esconde por trás de sua rotina - que parece encontrar algum alento somente nos dias em que utiliza a piscina de um clube das redondezas. A mesma piscina é frequentada por Jo, um adolescente um tanto perdido e que cruza o caminho de Margaret enquanto ela recebe uma sucessão de notícias preocupantes. Tanto Rachel quanto Jo precisam de ajuda e os dois se agarram um ao outro como uma tábua de salvação. A diretora Rebecca Daly não se inibe ao embaralhar as emoções de sua protagonista, que ora observa Jo com olhar maternal e aos poucos passa a desejá-lo - e a câmera da diretora faz questão de criar uma transição física da vulnerabilidade e a sexualização do corpo do rapaz, por vezes em ângulos que revelam o quanto Keoghan é de fato um ator destemido. Vale ressaltar que a diretora utiliza aqui uma verdadeira subversão aos romances intergeracionais que costuma chegar nas telonas. Rachel tinha 48 anos durante a estreia do filme, enquanto Barry tinha metade de sua idade (embora aparente bem menos). Por mais estranho que pareça, a desenvoltura de ambos em personagens complicados são o grande trunfo do filme que por vezes abusa da cadência silenciosa. Obviamente que para além da questão da ausência a ser preenchida na casa de Margaret, o relacionamento entre ambos irá gerar um bocado de incompreensão. Não por acaso o longa (que se chamaria Mamífero, caso fosse traduzido) é repleto de simbologias sobre a maternidade, mas em sua essência, o filme de Rebeca Daly é apenas um filme sobre duas pessoas que precisam ser amadas com todas as cicatrizes que carregam.
Mammal (Irlanda - Países Baixos - Luxemburgo/ 2016) de Rebeca Daly com Rachel Griffiths, Barry Keoghan, Michael McElhaton, Joanne Crawford e Johnny Ward. ☻☻☻☻
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