sábado, 29 de outubro de 2022

#FDS Latino: Todo Clichê do Amor

 
Eucir e Marjorie: não é o que você está pensando. 

Já escrevi várias vezes aqui no blog que um dos maiores prazeres que tenho é assistir um filme que nunca ouvi falar e ser uma grata surpresa. Um dos casos recentes em que vivenciei esta experiência foi com Todo Clichê do Amor do diretor Rafael Primot (que antes dirigiu o interessante Gata Velha Ainda Mia/2014, que considero o último grande momento da carreira de Regina Duarte). O filme é um caleidoscópio de histórias de amor que tenta lançar um olhar diferente para os arquétipos que utiliza como ponto de partida. Se o início parece meio aleatório, aos poucos o filme começa a encontrar foco encontrar nos personagens que apresenta de forma entrelaçada (por vezes de forma forçada). Assim, se você não se assustar com a rotina do ator pornô vivido por João Baldassarini, você vai ver que o filme tem muito mais a oferecer. Afinal, temos uma dominatrix (Marjorie Estiano) que está preocupada por seu cliente (Eucir de Souza) não parece muito empolgado com suas estripulias sexuais, também temos um rapaz  apaixonado (o próprio Rafael Primot) pela funcionária de uma lanchonete (Debora Fallabella) que está presa num relacionamento não muito legal e, para terminar, conhecemos uma mulher (Maria Luisa Mendonça) que acaba de perder o marido e que o velório se torna uma verdadeira lavagem de roupa suja com a amarga enteada que está grávida (o que não é desculpa para a garota ser insuportável em seu tom teatral que destoa de todo o filme). O roteiro de Primot prende a atenção por sua capacidade de surpreender, ao revirar seus clichês do avesso, assim, a viúva amarga, o bad boy, a prostituta, o astro pornô, o cliente adúltero, a esposa aborrecida, todos eles recebem novas camadas ao longo do filme. Os mais atentos irão perceber que vários personagens fazem alusão à alguma deficiência, como se o diretor ressaltasse a dificuldade sempre presente na humanidade de se relacionar com as diferenças. No entanto, seria bastante reducionista considerar que o filme fala somente de romances, existem histórias de solidão, incompreensão, frustração e tristeza, sempre temperado com muito humor e sacadas bastante espertas para uma produção cem por cento independente (basta ver a geralmente comportada Marjorie Estiano arrasadora como a Dominatrix roubando a cena). Quando o filme terminou, eu só imaginava o que a energia criativa de Rafael Primot teria sido capaz de fazer com a música Eduardo e Mônica, que  se tornou um dos filmes mais insossos do cinema brasileiro. Depois de Todo Clichê do Amor, eu escuto a música da Legião, fecho os olhos e assisto um filme ainda melhor. 

Todo Clichê do Amor (Brasil/2017) de Rafael Primot com Maria Luisa Mendonça, Marjorie Estiano, Eucir de Souza, Rafael Primot, Debora Fallabella, Gilda Nomacce e João Baldasserini. ☻☻

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