Não sei vocês, mas adoro quando me deparo com uma série feito Ruptura que está na AppleTV+. Eu gostei tanto da série que vi os episódios aos poucos para que não acabasse logo (e eu aguardasse ansiosamente uma nova temporada). A julgar por esta primeira leva de episódios, as expectativas para a continuação ficam ainda maiores, já que o novo episódio finaliza com revelações que deixam vários ganchos para a próxima (a julgar por todos os elogios merecidos que a série recebe, ela deve render mais alguns anos). A ideia do estreante Dan Erickson parte de algo que já deve ter passado pela cabeça de muita gente: estar no local de trabalho e deixar a vida particular do lado de fora. No entanto, aqui a ideia é radicalizada em tempos que nem Black Mirror costuma superar a realidade. Acredito que todo mundo já deve ter passado por aquele dia difícil e teve que ir cumprir suas obrigações laborais pelo salário no fim do mês - mas que teria sido mais produtivo se a vida pessoal tivesse ficado de fora por alguma horas. A ideia pode parecer boa numa primeira olhada, mas se torna um verdadeiro pesadelo. Aqui estamos diante da Lumen, uma empresa que adota um recurso tecnológico inovador, o procedimento de Ruptura. Um chip é implantado na cabeça do funcionário e assim que ele chega no trabalho, um dispositivo é ativado, fazendo com que o trabalho se torna o único foco de sua vida. Após a jornada de trabalho, ele sai do escritório e volta à sua vida normal. Simples. Funcional e... eficaz? Se você levar em consideração o viúvo Mark (o bom moço Adam Scott), aquelas oito horas são um verdadeiro alento, já que ele não lembra da viúva que faleceu a alguns meses. No entanto, tão logo Mark é promovido ele tem problemas com Helly (Britt Lower), que por conta de uma recepção atrapalhada começa a resistir à ideia de esquecer a vida fora do escritório. Assombrada pela ideia de viver continuamente no local do trabalho (afinal, são as únicas memórias que estes funcionários possuem) ela faz de tudo para convencer seu "eu externo" a pedir demissão, mas a tarefa é mais árdua do que ela imagina. Completam a lista Dylan (Zach Cherry) e Irving (John Turturro), se o primeiro aceita bem sua rotina laboral até que um incidente coloca tudo a perder, o segundo começa a vivenciar um flerte no local de trabalho com um colega mais velho (Christopher Walken), que se torna sua principal motivação para prosseguir. Além dos desdobramentos destes personagens, existe ainda uma penca de mistérios que tornam Ruptura um programa imprevisível em sua forma e conteúdo. Há de se destacar ainda que Ruptura é mais uma parceira para lá de certeira entre Ben Stiller e Patricia Arquette. Stiller deixa de lado sua popularidade como ator e investe mais uma vez em sua verve de diretor interessante, aparentemente é ele que dita a atmosfera misteriosa com certo verniz cômico e crítica social, algo que ele tentou em sua segunda experiência como cineasta (lembra de O Pentelho/1996 com Jim Carrey?) mas que aqui surge tão amadurecida como envolvente. Já a oscarizada PAtricia Arquette atuou ao lado de Ben em Procurando Encrenca/1996 e uma grande afinidade parece ter surgido entre os dois quando ambos tentavam um lugar ao sol de Hollywood. Ainda que tenham seguido caminhos distintos, Patricia voltou a ser celebrada com Boyhood (2014) e retornou à TV, espaço que se tornou seu abrigo quando Hollywood se deslumbrava com outras atrizes. Foi neste retorno que ela e Ben trabalharam juntos em Scape At Dannemora que rendeu a ela o Globo de Ouro, o SAG e o Critic's Choice de melhor atriz de TV, os prêmios continuaram com The Act e não duvido que sua versátil interpretação de gélida chefe e acolhedora vizinha de Mark lhe renda outras estatuetas. Entre estranhezas e mistérios, Ruptura é o tipo de série que faltava a algum tempo, especialmente pelo seu estilo (até agora) redondinho de contar uma história envolta de mistérios.
Ruptura (Severance - EUA / 2022) de Dan Erickson com Adam Scott, Britt Lower, Patricia Arquette, John Turturro, Zach Cherry, Christopher Walken, Dichen Lachman e Tramell Tillman. ☻☻☻☻☻
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