Gepetto e Pinóquio: um menino de verdade em corpo de madeira.
Embora a maior referência da história de Pinóquio no cinema seja a animação da Disney lançada em 1940, quem assistiu a versão de 2019 feita por Matteo Garrone sabe que a história imaginada pelo escritor Carlo Collodi é bem mais sombria do que um filme feito para a criançada. Pois os deuses do cinema resolveram que em 2022 houvesse uma espécie de duelo entre estas duas concepções do personagem no cinema, já que a Disney resolveu fazer a versão live-action do seu clássico, agora estrelado por Tom Hanks (que ainda não assisti) enquanto a Netflix resolveu bancar um projeto de Guillermo Del Toro fazia tempo desejava tirar do papel. Dizem que faz uns dez anos que Guillermo percorria os estúdios com seu roteiro e story-board embaixo do braço até que a Netflix topasse a empreitada. O grande obstáculo de Del Toro era seu plano de contar a história do menino de madeira feita em stop-motion (aquela técnica de animação feita com bonecos e que para ter um minuto de filme é necessário quase um dia de trabalho). Com o sinal verde da Netflix, o diretor criou uma super equipe em vários lugares para que o filme conseguisse ser produzido com maior rapidez sem perder o cuidado com a fascinante (e exaustiva) técnica de filmagem (que pode ser vista no documentário em cartaz na gigante do streaming). Quem conhece a história sabe justamente o que fascina o diretor nessa história: seu interesse por criaturas e suas emoções. Aqui é identificável seu estilo em cada boneco, cada cenário e concepção artística, além de aprofundar detalhes que outras adaptações não davam muito destaque. Aqui o marceneiro Gepetto é devastado pela morte de seu filho na Primeira Guerra Mundial, a fada azul não é propriamente uma fada e ainda é irmã de uma criatura guardiã da morte. O Pinóquio é tão adorável quanto bagunceiro com seus braços e pernas que mais parecem gravetos. Curioso e cheio de alegria, ele provoca estranhamento no vilarejo em que vive, mas também desperta interesse em quem vê naquele boneco encantado a chance de fazer muito dinheiro. Ambientado durante o período do fascismo na Itália, existe aqui um pouco de política no roteiro, mas que não parece gratuito, uma vez que Del Toro percebe em seu Pinóquio um excluído que é sempre exigido ser o que não é: um menino de carne e osso. Este talvez seja o ponto mais interessante do filme, já que ao longo da sessão esquecemos que aquele menino é feito de madeira. Não é por acaso que rumo ao desfecho, Guillermo deixa claro que Pinóquio pode ser diferente e não há nada de errado com ele, apenas com as pessoas que percebem nesta diferença um motivo para excluí-lo. Dito isso, o filme é impecável! Impossível escolher um detalhe ou outro para destacar. Engraçado, terno e um tanto assustador, Pinóquio de Del Toro é um espetáculo para os olhos e o coração.
Pinóquio (Guillermo Del Toro's Pinnochio / EUA - México - França /2022) de Guillermo Del Toro com vozes de Ewan McGregor, Gregory Mann, David Bradley, Ron Perlman, Finn Wolfhard, Cate Blanchett, Tilda Swinton, Tim Blake Nelson e Christoph Waltz. ☻☻☻☻☻
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