George: Jacob, o menino lobo.
Ainda que pareça um rapaz educado Jacob (George MacKay) gosta mesmo é de andar pelado pela floresta uivando para a lua. O moço se considera um lobo preso no corpo de homem e sua postura aparentemente inofensiva já rendeu até uma agressão grave a outra pessoa. Diante do estranhamento provocado por seu comportamento, seus pais decidem interná-lo numa clínica especializada no que costumam chamar de Disforia de Espécie, onde descobrimos que não é apenas Jacob que se considera um bicho, mas uma série de outros jovens apresentam o mesmo comportamento. Na clínica vemos adolescentes que se veem como cavalo, esquilo, pastor alemão, papagaio, pato... todos estão sob os cuidados do tratamento criado pelo Doutor Zookeeper (Paddy Considine) e acompanhados pela Doutora Angeli (Eileen Walsh). Espera-se que ao longo do tratamento, os pacientes comecem a se reconhecer como seres humanos e deixem para trás a ideia de que são espécies diferentes presos no corpo errado. Se a ideia parece nobre, o método adotado por Zookeeper é bastante agressivo, de forma que trata seus pacientes como bichos, sujeitos a situações de tortura psicológica (ao ponto de dizer para uma garota vestida de papagaio pular de uma janela já que ela, enquanto pássaro, sabe voar, ou até fazer um rapaz perder a unha enquanto tenta escalar uma árvore como um esquilo faria). Por outro lado, Jacob parece ciente do que deve fazer para sair dali o mais rápido possível, mas, ao mesmo tempo, assumir-se enquanto lobo parece inevitável mediante um método que não entende o que se passa em sua cabeça. A diretora e roteirista Nathalie Biancheri parece beber na fonte do absurdismo que faz a glória do novo cinema grego na escola de Yorgos Lanthimos, mas carece de um olhar um pouco mais ácido para fazer seu filme alcançar todas as notas que anseia. Em alguns momentos as situações parecem querer provocar risos na plateia, em outros gera angústia, em outras compaixão, mas de forma um tanto desequilibrada ao longo da sessão, principalmente quando os personagens não se desenvolvem ao longo da história. A impressão é que o olhar da diretora sobre aqueles personagens fica em cima do muro, entre o poético e o absurdo, deixando até que paire sobre o filme comparações com pessoas trans e o olhar que a sociedade possui sobre elas. O que faz o filme funcionar mesmo é a atuação do inglês George MacKay, ator que está prestes a completar 30 anos e atua desde os dez anos de idade. Em Wolf seu trabalho de expressão corporal impressiona quando caminha feito um lobo de verdade, pena que o roteiro não apara a complexidade de seu personagem como ele merece.
Wolf (Irlanda - Reino Unido - Polônia / 2021) de Nathalie Biancheri com George MacKay, Lily-Rose Depp, Eileen Walsh, Paddy Considine, Fionn O'Shea, Darragh Shannon e Terry Notary. ☻☻
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