Patricia: digna de culto.
Pode se dizer que Patrícia Highsmith é uma das escritoras mais queridas do cinema. Ao longo da carreira ela lançou 22 livros e quase todos receberam versões para a telona, sobretudo os protagonizados pelo seu personagem mais famoso: Tom Ripley. Patricia também escreveu oito livros de contos (alguns também receberam adaptações para o cinema ou TV), um livro infantil e um de não ficção. O motivo para tamanho interesse do audiovisual pelas obras da autora é a sua capacidade de construir personagens cheios de camadas em tramas repletas de suspense, algo que funcionou bem desde a sua primeira adaptação para Hollywood com Pacto Sinistro (1951) de Alfred Hitchcock (mas que nem sempre garante um bom filme, vide a lambança que Adrian Lyne fez com a nova versão de Águas Profundas/2022). Basta ver o universo que construiu em torno de Tom Ripley, o jovem oportunista capaz de qualquer coisa para alcançar o que deseja e no documentário Amando Patrícia Highsmith (em cartaz na Filmicca) conhecemos um pouco mais sobre a celebrada escritora através de entrevistas dela ou de pessoas conhecidas, além de cenas de arquivo que ajudam a decifrar uma mulher tão complexa quanto seus melhores personagens. Mary Patricia Plangman nasceu no Texas em 1921 em uma família de origem alemã. Seus pais se separaram quando ela tinha apenas onze dias de nascida e aos seis foi morar em Nova York com a mãe e o padrasto. A vida na big apple durou pouco tempo, já que aos onze anos foi morar com a avó. O afastamento da mãe lhe gerou uma sensação de abandono que afetou muito a sua personalidade. Foi do padrasto, Stanley Highsmith, que a Mary Patricia herdou o nome artístico. A autora era bastante discreta com sua vida pessoal, o que ressalta ainda mais seu gosto por personagens enigmáticos. Talvez a maior revelação de sua intimidade tenha sido exposta sob o pseudônimo Claire Morgan, nome com o qual assinou o lançamento de The Price of Salt (1952) que três décadas depois seria rebatizado de Carol e receberia uma versão para o cinema pelas mãos de Todd Haynes em 2015 e indicado a seis Oscars. Ao misturar a vida pessoal de Patricia com sua obra, Amando Patricia Highsmtith explora um pouco do que havia de pessoal na história das duas mulheres que se apaixonam e enfrentam um mundo repleto de preconceitos. Price of Salt se tornou um marco ao romper com o paradigma de amores lésbicos na literatura, que até então eram narrativas sobre à ruína de suas personagens. Highsmith mandou às favas o cunho moralista desta regra e ofereceu às suas personagens um final feliz, tal e qual Patrícia desejava para si. Patrícia pensou em retomar tramas parecidas em sua carreira, mas acabou investindo em outras histórias. No entanto, as questões relacionadas à homossexualidade surgem nas entrelinhas de seu personagem mais famoso e ganham destaque em O Garoto que Seguiu Ripley (1980) em que explora nuances surpreendentes para os fãs do personagem. Com a bela voz de Gwendoline Christie narrando em nome de Patricia, o documentário traz relatos interessantes da relação da autora com seus personagens e se desvia de algumas polêmicas sobre sua personalidade, mas constrói um painel bastante interessante sobre a cultuada escritora além de instigar ainda mais seus fãs a conhecerem a mente por trás da tensão presente em sua obra.
Amando Patricia Highsmith (Loving Highsmith/ Suíça - Alemanha /2022) de Eva Vitija com Patricia Highsmith, Judy Coates, Dan Coates, Monique Buffett e Gwendoline Christie. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário