Lilit e Clare: alguém escalpelando por aí.
Imagine um concurso de penteados inacreditáveis que precisa lidar com a sombra de um assassinato cometido pouco antes de sua realização. Entre muita estilização, laquês, apliques e o que mais você imagine que possa ser agregado aos cabelos das modelos, o que não falta são conversas e especulações sobre o crime ocorrido, ressentimentos de eventos passados, contrabando de remédios para calvície, suspeitas e corrupção nos bastidores. Parece uma loucura? Agora imagine uma narrativa de uma hora e quarenta minutos que progride como se fosse um longo plano sequência. Sem cortes. Os diálogos se acumulam enquanto a câmera procura os personagens a todo instante com suas declarações e potências pessoais. O resultado é bastante curioso e cheio de frescor graças ao estreante Thomas Hardiman que após trabalhar no cinema e na televisão no setor de direção de arte resolveu estrear como cineasta em um trabalho estilizado e que remete às obras do mestre Robert Altman em suas obras sobre bastidores que serviam como análise ácida de um microuniverso movido pelos seus personagens. O caráter caleidoscópico é fundamental para que o filme funcione, afinal, o embalo do filme acontece justamente pelos encontros que a narrativa proporciona entre cabeleireiras, produtores, seguranças, bombeiros, policiais e tudo mais que apareça na frente da câmera. Estão ali o clima de competitividade e um bocado de ressentimentos que parecem nunca ter recebido a oportunidade de virem à tona. Assim, Cleve (Clare Perkins) está doida para se consagrar na disputa, assim como Kendra (Harriett Webb) quer ganhar novamente, Rene (Darrell D'Silva) está cada vez mais preocupado com os acontecimentos clandestinos ocorridos nos bastidores, Angel (Luke Pasqualino) não sabe se fica mais preocupado com o bebê que está pendurado em seu colo ou que descubram as atividades ilegais que realiza ao lado do misterioso Patricio (Nicholas Karimi), além disso tem o estranho Gac (Heider Ali) - que talvez saiba mais do que diz. Misture todo mundo numa cadência esperta (que por vezes se torna escrava da ideia de ser uma narrativa em plano sequência com longos períodos em que a câmera segue as costas de um personagem, algo que incomoda lá pela terceira vez). Interessado pelos personagens, às vezes Hardiman nos faz esquecer que houve um crime por ali e nos faz apenas ser um penetra nos bastidores daquela famigerada competição. Pode não ser o melhor filme que você irá assistir na semana, mas é com certeza um dos mais originais (e está em cartaz na MUBI). Não satisfeito em revelar seu desfecho, o filme ainda capricha em uma cena de encerramento em que coloca todo o elenco para dançar ao som de Chrissy. Mais camp impossível! Hardiman consagra aqui o estilo que já exibia em curtas como Radical Hardcore (2015).
Medusa Deluxe (Reino Unido/2022) de Thomas Hardiman com Clare Perkins, Kayla Meikle, Heider Ali, Luke Pasqualino, Lilit Lesser, Kae Alexander, Harriett Webb, Nicholas Karimi, Darrell D'Silva e Heider Ali. ☻☻☻
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