domingo, 27 de agosto de 2023

#FDS Patricia Highsmith: Pacto Sinistro

 
Granger e Walker: acordo por água abaixo. 

Fechando o #FimDeSemana dedicado à escritora Patricia Highsmith, escolhi o clássico Pacto Sinistro de Alfred Hitchcock, primeira adaptação da escritora para o cinema. Reza a lenda que Hitchcock enganou a escritora para comprar os direitos autorais da obra, utilizando terceiros que nunca revelaram que era ele o interessado em realizar a adaptação. A medida acabou rendendo outra pendenga na hora de lapidar o roteiro, já que o cineasta não gostou da primeira versão do texto e depois teve problemas em conseguir alguém concluísse o trabalho de forma satisfatória. Sorte que o cineasta é escolado suficiente para driblar todos esses problemas e fazer um filme exuberante do mesmo jeito. Embora não tenha recebido a atenção devida em sua época de lançamento, Pacto Sinistro se tornou uma referência do gênero com sua história de elaboração de um crime perfeito calcado em dois estranhos que se conhecem em um vagão de trem. Um deles é o jogador de tênis Guy Haines (Farler Granger) o outro é o estranho Bruno Anthony (Robert Walker), que de início parece um fã do jogador (chegando a conhecer sua vida amorosa) mas que depois revela uma verdadeira obsessão por ele. Acontece que Guy tem uma ex-esposa que hesita em lhe dar o divórcio e lhe impede de se casar com a bela filha de um senador, enquanto Bruno tem problemas com o pai, que gostaria que já tivesse partido para o andar de cima faz tempo. Eis que no meio da conversa, Bruno oferece a ideia de que um assassinasse a pessoa indesejada da vida do outro, o que não levantaria suspeitas perante possíveis investigações, uma vez que não haveria motivação para o crime trocado que realizariam. Guy acha aquela conversa toda muito estranha e Bruno resolve fazer sua parte do "acordo". Surgem então dois problemas: a perseguição do biruta ao jogador e as suspeitas que acabam recaindo sobre o próprio Guy - o que coloca em risco toda sua carreira. Hitchcock desenvolve a história calcada principalmente na relação doentia que se estabelece entre os dois, não deixando de pontuar uma certa tensão sexual entre eles (enfatizada por olhares, gestos e toques), o que torna toda a obsessão do assassino ainda mais complexa com a vida do tenista. Se Farier Granger cumpre bem o papel de mocinho da história, o destaque fica mesmo para a composição esquisita de Robert Walker que constrói um sujeito de gestos duros, postura tensa e olhar vidrado a maior parte do tempo (ele parece um rascunho de Tom Ripley e até de Norman Bates, que surgiria somente nove anos depois em Psicose/1960).  Se a elegância de Hitch já é esperada, aqui ele consegue inserir humor em alguns momentos inusitados, observe a cena final e até  a elaborada cena do carrossel descontrolado. A cena deve ter dado um trabalho danado para ser realizada e ainda hoje é capaz de provocar vertigens, mas não deixa de ser divertida com todos os gritos e um garoto que se mete na briga entre os dois homens enquanto monta seu cavalinho desesperado. Há quem diga também que os dois personagens são na verdade os lados opostos de uma mesma moeda, basta verificar que são bastante diferentes, mas que de vez em quando Guy parece até próximo de cair na tentação de seguir o plano do amigo perturbado.  

Pacto Sinistro (Strangers on a Train / EUA - 1951) de Alfred Hitchcock com Farley Granger, Ruth Roman, Robert Walker, Leo G. Carroll, Patricia Hitchcock, Kasey Rogers, Marion Lorne, Jonathan Hale, Howard St. John e John Brown. 

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