Carey e Zoe: boas atrizes sem atmosfera.
As denúncias de abuso sexual envolvendo o empresário Harvey Weinstein, que ficou famoso por seu trabalho à frente da Miramax nos anos 1990 e posteriormente na Weinstein Company, foi um dos maiores escândalos da história de Hollywood. Famoso por suas campanhas agressivas na temporada de prêmios, Harvey viu seu império ruir quando um grupo de mulheres resolveu enfrentar todo o esquema de proteção criado ao seu redor. Atrizes como Mira Sorvino, Gwyneth Paltrow, Ashley Judd e principalmente Rose McGowan foram fundamentais para que a verdade sobre o abusador viesse à público através da imprensa na segunda metade da década passada numa ação articulada por diversas jornalistas. Obviamente que em tempos de #MeToo e engajamento, Hollywood não pensaria duas vezes ao olhar para si mesma e levar a história para a telona. Eu só não imaginava que seria tão rápido. Ela Disse foi badalado em sua produção que acreditava que o longa seria lembrado na temporada de prêmios ao abordar um tema tão explosivo, mas teve que se contentar com menções ao roteiro e ao trabalho de Carey Mulligan em poucas premiações (como BAFTA e Globo de Ouro). o problema é que toda a tensão é exposta com a emoção de quem está prestes a dormir. O filme gira em torno de duas jornalistas do The New York Times que por conta de uma matéria sobre assédio sexual em locais de trabalho se deparam com as denúncias feitas a Harvey Weinstein. Jodi Kantor (Zoe Kazan) e Megan Twohey (Carey Mulligan) puxam então um fio que revela um verdadeiro emaranhado de acordos que protegiam Harvey, assim como instituições que deveriam zelar pelas vítimas e terminam fazendo o trabalho oposto. Kantor e Twohey (que escreveram os artigos e o livro que deu origem ao filme) passam a maior parte do tempo conversando por telefone e tentando convencer as vítimas a se pronunciarem sobre as situações sofridas. O filme menciona estrelas a todo instante, mas poucas aparecem em cena, deixando o destaque mesmo para Zelda Perkins (Samantha Morton) e Laura Madden (Jenifer Ehle) que se tornam fontes importantes para as jornalistas. Zoe e Carey são ótimas atrizes, mas tenho a impressão que suas personagens poderiam ser vividas por quaisquer outras, já que o texto dedicado à elas não lhes exige muito mais do que o esperado. As vidas particulares das jornalistas aparecem aqui e ali sem muito destaque. A diretora alemã Maria Schrader (do filme pré-indicado ao Oscar O Homem Ideal/2022) faz o que pode para não soar sensacionalista, mas esquece de repor o caráter explosivo da história por qualquer outra coisa. Por diversas vezes o filme soa longo em sua repetição, caindo na armadilha de soar artificial em seu retrato da investigação jornalística que apresenta. Talvez o que falte mesmo é o distanciamento histórico para que introduza na trama alguma surpresa. Ao abordar um crime tão recente, o filme não traz nada de muito revelador perante o que os cinéfilos já acompanharam sobre todo o ocorrido execrável dos bastidores da elite de Hollywood. Algo me diz que o livro é muito melhor.
Ela Disse (She Said/Japão - EUA/ 2022) de Maria Schrader com Zoe Kazan, Carey Mulligan, Patricia Clarkson, Samantha Morton, Adam Shapiro, Andre Braugher, Tom Pelphrey e Ashley Judd. ☻☻☻
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