Phoebe e Ford: dupla difícil de engatar. |
A certa altura de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, o vilão do filme volta-se para o herói e declara que no mundo não existe mais lugar para eles. Levando em consideração a bilheteria decepcionante que o filme conseguiu ao redor do mundo (336 milhões de dólares, pouco para um filme de 295 milhões de dólares mais os gastos com marketing que ultrapassaram os cem milhões), pode parecer que foi uma afirmativa premonitória, no entanto, o filme não se passa em 2023, mas em 1969, ano em que o professor Jones se aposenta da Universidade. No entanto, quando o filme começa durante a Segunda Guerra Mundial, o protagonista enfrenta mais uma vez o interesse de oficiais alemães em artefatos raros e com propriedades metafísicas capazes de fazer um grande estrago se caírem nas mãos erradas. Aqui o artefato é um mecanismo construído pelo genial Arquimedes (287 a.C. – 212 a.C.) que é capaz de identificar fissuras no eixo espaço-tempo e promover viagens temporais. Quem mantém o interesse por isso, seja na década de 1940 ou várias décadas depois é Jürgen Voller (Mads Mikkelsen), que deseja ir ao passado para reverter a derrota da Alemanha na Guerra. Voller é o vilão do filme, um oficial alemão que migrou para os Estados Unidos e se tornou um dos cérebros por trás da corrida espacial na Terra do Tio Sam. Quem também tem interesse no apetrecho é Helena Shaw (Phoebe Waller Bridge), afilhada de Indy, filha de um companheiro de aventuras (Tobey Jones) que acabou enlouquecendo por conta do artefato. Os três são as principais peças de um filme cheio de cenas de ação, mas que padece de um roteiro com dificuldades enormes de envolver a plateia na história que tem para contar. O problema maior nem é Indiana Jones calejado, sofrido com as armadilhas da vida pessoal e um tanto desanimado com um mundo que começava a se tornar obcecado por tecnologias, o que mais desagrada é o tom jocoso com que vários personagens se dirigem a ele, principalmente sua afilhada Helena. Não sei muito bem qual foi a intenção de colocarem a personagem no filme, mas a relação dela com o padrinho é uma das coisas mais estranhas que já vi. Demora para haver um entrosamento entre os dois e a trama engatar. O fato de a colocarem como uma golpista espertalhona que se utiliza de seu apelo emocional perante um senhor aposentado é algo que torna quase impossível desenvolver alguma simpatia por ela. Daí, as tentativas de dar algum brilho à personagem também soaram inúteis para mim, enfim, não funcionou (e mais uma vez aquele papo de “a mocinha não precisa ser resgatada porque se vira sozinha” mostra já ter sido usado à exaustão. Bora elaborar analogias feministas mais caprichadas nos filmes, por favor!). Pode-se dizer que ela tampou o buraco deixado pelas ideias de dar uma família para o protagonista depois que Shia LaBeouf demonstrou ser uma péssima escolha para o papel de herdeiro do arqueólogo aventureiro no filme anterior (que já não era grandes coisas). Resta dizer que o carisma de Harrison Ford permanece intacto, mas o filme não sabe muito o que fazer com ele. Podem até colocar na conta da saída de Spielberg da direção e a entrada de James Mangold, em mais um exercício genérico de sua carreira. Ele faz o que pode, mas o roteiro é tão fraquinho que nem mesmo um milagre para dar jeito... ao menos aquela parte de viagem ao passado provoca algum deslumbramento, mas é pouco. O filme já está quase no fim após ter se arrastado por quase duas horas. Espero que ao menos deixem Indiana descansar dessa vez e não o incomodem novamente aguardando o rendimento de milhões de bilheteria. Mas voltando ao início, não sei se o mundo não tem mais lugar para um herói feito Indiana Jones, só acho que os estúdios não sabem mais o que fazer com nossos heróis favoritos.
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