Pinon: a estreia impactante de Jean-Pierre Jeunet. |
Acho que trinta e dois anos após seu lançamento, o filme de estreia do francês Jean-Pierre Jeunet pode ser considerado um clássico! Na época de seu lançamento, se tornou um daqueles filmes que todo cinéfilo deveria assistir e comentar por aí. Tinha uma aura cult e todo mundo só falava dele, principalmente por sua estranheza com verniz cômico, afinal, a trama é sobre um rapaz de bom coração Louison (Dominique Pinon) que aluga um apartamento num prédio em que o proprietário de vez em quando prepara uma refeição... digamos, especial para seus inquilinos com base na carne de outro inquilino. A ideia indigesta ganha corpo numa atmosfera pós-apocalíptica com toques surrealistas cheia de piadinhas, rapidez e uma estética que se transformou a marca do diretor. Louison irá se apaixonar pela filha do proprietário e irá conhecer os seus estranhos vizinhos, no meio de tudo isso tem um grupo que vive nos esgotos que está prestes a invadir o prédio e acabar com as atrocidades que são cometidas ali. Depois de tantas décadas a ingenuidade do protagonista pode até irritar alguns espectadores, assim como o ritmo acelerado que hoje se mostra datado, naquele tempo dava um ar moderninho, mas hoje mereceria o rótulo de Geração TikTok (antes era "geração MTV", mas ao origem da carreira de Jeunet é nos clipes mesmo). Observando hoje, os maiores méritos do filme ficam por conta da direção de arte que constrói um mundo bastante particular com detalhes bastante anacrônicos e cenários vívidos que fazem toda a diferença em tempos de CGI em excesso. Acho que também vale elogiar Dominique Pinon, que é famoso por ter um dos rostos mais "exóticos" do cinema e que consegue se tornar atraente ao encarnar um personagem tão gente boa. Ele voltou a trabalhar com Jeunet diversas vezes, inclusive em seu filme seguinte (Ladrão de Sonhos/1995) em que muitos começaram a ressaltar que o cinema do francês tinha mais forma do que conteúdo. O curioso é que depois desses dois filme, Jeunet migrou para Hollywood e dirigiu o Alien: A Ressurreição (1997), considerado por muitos o pior da franquia. A ida para a Terra do Tio Sam lhe custou a parceria com o amigo Marc Caro - e parece que a o lado mais sombrio dos primeiros filmes de Jeunet se devia à influência do companheiro, já que seus longas seguintes seguiram por caminhos mais luminosos como o sucesso mundial O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), Eterno Amor (2004) e Uma Viagem Extraordinária (2013). Embora seu cinema tenha perdido o impacto na última década, Jeunet ainda é um sujeito que pensa seus filmes de forma bastante autoral, o que torna ainda mais curioso conferir o que ele foi capaz de fazer com todo o gás de seu início de carreira.
Delicatessen (França - 1991) de Jean-Pierre Jeunet com Dominique Pinon, Marie-Laure Dognac, Pascal Benezech, Jean Claude-Dreyfus, Karin Viard, Ticky Holgado, Jacques Matou e Anne-Marie Pisani.☻☻☻
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