sábado, 27 de abril de 2024

#FDS Madonna: Evita

Banderas e Madonna: polêmica adaptação de uma opera rock.   
 
Fazia quase dez anos que Madonna havia começado seus trabalhos no cinema e, tirando os elogios que havia recebido por seus trabalhos em Dick Tracy (1990) e Uma Equipe Muito Especial (1992), no saldo de seus trabalhos como atriz havia mais críticas do que sucessos. A sua não indicação nas premiações também a deixou desapontada, para ter ideia a vez em que ela chegou mais perto do Oscar foi quando Sooner or Later da trilha sonora de Dick Tracy foi premiada como melhor canção original. A apresentação na cerimônia do Oscar rendeu um dos momentos mais icônicos da carreira da rainha do pop e até hoje surpreende muita gente pela destreza vocal que apresenta. No entanto, logo depois, Madonna chegou ao auge da polêmica. Em 1992, ela havia lançado um livro (o famigerado SEX) e um álbum baseado em suas fantasias sexuais (Erotica). Houve também um filme (Corpo em Evidência/1993) que foi massacrado pela crítica em que Madonna vivia uma mulher que havia matado o marido rico por excesso de sexo. A rejeição do público foi grande e a loura precisava reciclar sua imagem, começou a fazer músicas mais românticas e no cinema fez participações especiais em produções independentes, enquanto seu papel dos sonhos não aparecia: viver Eva Perón no cinema. Quando o diretor Alan Parker começou a tocar o projeto, Madonna fez de tudo para conseguir o papel, mas reza a lenda que bancou o clipe da música Take a Bow (do álbum Bed Time Stories de 1994) para convencer o cineasta de que era a escolha certa para o  papel. Levando em conta que o filme era na verdade uma adaptação de uma opera rock da Broadway, a escolha de uma cantora que parecia fisicamente com a icônica figura política argentina não soava tão absurda (ainda mais depois que Meryl Streep e Michelle Pfeiffer desistiram do papel). Madonna foi escolhida e fez tudo conforme manda o figurino. Ficou comportada, ganhou alguns quilos para o papel, fez aulas de canto para dar conta da árdua exigência vocal da produção que desde o início sabia que seria uma cantoria infinita. Fazer um musical quando o gênero estava em baixa em Hollywood era um risco e o barulho era ainda maior levando em conta todos os protestos dos peronistas argentinos de verem uma figura histórica santificada vivida por uma artista com o histórico de Madonna. Alan Parker parecia não se intimidar. O diretor já tinha obras importantes no currículo, inclusive musicais cultuados como The Wall (1982) e The Commitments (1991), além de duas indicações ao Oscar (uma por O Expresso da Meia-Noite/1978 e outra por Mississipi em Chamas/1988), ou seja, Madonna estava em ótimas mãos. Vale destacar que a produção do filme é impecável, mas o problema está que a peça escrita por Tim Rice é feita para os palcos e não para uma aula de História, não tendo pudores em ter algumas imprecisões (como colocar Che Guevara, vivido por Antonio Banderas, como uma figura próxima da protagonista). O longa conta a história da mulher de origem humilde, filha bastarda de um agricultor que parte para a cidade e chama atenção de Juan Perón (vivido pelo inglês Jonathan Pryce) prestes a se tornar um cultuado político no país. O filme explora bem a construção de um mito ao redor da personagem, que tinha grande apelo entre a população mais pobre do país e que potencializava o apelo populista do marido. O filme se esquiva de discussões sobre a índole do casal (que ostentava uma vida luxuosa em um país pobre), mas aborda um pouco da tensão política que os países latino-americanos viviam no período. Se historicamente a produção tem seus problemas, como filme ele funciona muito bem se você não se incomodar com personagens que cantam o tempo inteiro. Sim, é artificial e a ideia é essa mesmo, o que não impede de ter alguns momentos memoráveis como I'd Be Surprisingly Good for You e da clássica Don't Cry For Me Argentina que se converteu em hit no repertório da cantora). Entre o elenco, Madonna é realmente o grande destaque com uma presença luminosa que é lembrada como sua melhor performance como atriz. Ela foi cotada para o Oscar, mas teve que se contentar com o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia ou Musical (que ironicamente, recebeu ao derrotar a futura ganhadora do Oscar de melhor atriz daquele ano: Frances McDormand por Fargo). Por suas qualidade, Evita apareceu em algumas listas de melhores filmes de 1996 e foi indicado em cinco categorias do Oscar: fotografia, cenografia, montagem, som e ganhou a categoria de melhor canção original com You Must Love Me, que rendeu a primeira apresentação de Madonna após dar a luz à sua primogênita, Lourdes Maria. Confesso que sempre achei melancólico ver Madonna se visivelmente tensa para dar conta de cantar "Você Precisa me Amar" quando sua maior chance de indicação ao Oscar não se concretizou. 

Evita (EUA/1997) de Alan Parker com Madonna, Jonathan Pryce, Antonio Banderas, Jimmy Nail, Olga Merediz, Laura Pallas, Gary Brooker e Adrià Collado.

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