terça-feira, 30 de abril de 2024

NªTV: Bebê Rena

Jessica, Gadd e Nava Mau: sentimentos complicados.
 
Estava eu tentando terminar a primeira temporada de Yellowjackets na Netflix quando todo mundo começou a falar de Bebê Rena. Todo mundo mesmo. Eu não fazia a menor ideia do que se tratava a série e ninguém estava disposto a me contar. Foi com base naquela imagem de uma personagem com um homem preso em um recipiente de vidro que comecei a assistir e confesso que ao final do sexto episódio eu não sabia o que dizer. Entendi perfeitamente toda a comoção provocada pela minissérie, já que a relação entre os dois personagens é tão complexa, tão cheia de camadas e aparentes contradições que os sentimentos do público se embaralham com dos próprios personagens, sendo que estes sentimentos são bastante complicados de serem expressos. Quando descobri que o programa é baseado em fatos reais, aquela impressão de que é uma trama sincera se tornou ainda maior e ao descobrir que o ator principal é o criador da série que resolveu retratar fatos vividos por ele... minha mente deu um nó. A história nos apresenta Donny Dunn (Richard Gadd), um barman aspirante a comediante que ainda não encontrou o sucesso (e está cada vez mais convicto que provavelmente não encontrará), um dia no bar ele se depara com Martha (Jessica Gunning), que está tão triste e sem dinheiro que ele resolve não lhe cobrar o chá pedido por ela. A atenção dada por Donny à moça é o suficiente para que ela se apaixone por ele. A partir daí, ela estará sempre por perto, estreitando cada vez mais a promessa de um laço afetivo. Donny, como também está passando por uma fase difícil, talvez não se dê conta de como toda atenção que Martha lhe oferece, alimenta sua autoestima de uma forma que ele sequer imaginaria. O problema é que Martha começa a passar dos limites e a coisa ganha proporções inimagináveis. As proporções só crescem e quando conhecemos um pouco mais da vida de Donny  junto a um trauma sofrido por ele, tudo se encaixa de forma assustadora. A série, que de início parece uma comédia romântica obscura, começa a ganhar traços cada vez mais intensos conforme destrincha seus personagens e explora como aquelas duas sentiam a necessidade de se agarrar uma outra para encontrar sentido em suas vidas. É uma sucessão de situações tão inesperadas que ao final você não sabe se fica mais compadecido com Martha ou com Donny. Bebê Rena envereda por uma seara de sentimentos complicados que renderiam horas de terapia, especialmente sobre como a sensação de ser amado e especial pode fazer as pessoas se sujeitar a situações degradantes com base na confusão de sentimentos que as atravessa. O que poderia ser uma história de amor se torna em uma grande indagação sobre emoções  que sequer imaginamos que possuímos. Ao final dos episódios me deparando com o sucesso do programa da Netflix e as alardeadas trocas de ofensas entre o protagonista e a antagonista na vida real, só fico pensando como o ciclo vicioso da relação de ambos ainda não terminou, assim como a busca incessante por atenção e reconhecimento. O sucesso de Bebê Rena se sustenta pela forma como nos faz pensar sobre a complexidade do ser humano.
 
Bebê Rena (Baby Reinder / Reino Unido - 2024) de Richard Gadd com Richard Gadd, Jessica Gunning, Nava Mau, Nina Sosanya, Shalom Brunne-Franklyn, Tom Goodman-Hill e Mark Lewis Jones. 

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