Kate e Matthias: atração carnal em meio à crise. |
Não há dúvidas de que Kate Winslet é uma das maiores atrizes de sua geração, mas faz algum tempo que ela percebeu que limitar seu talento somente ao cinema é um desperdício e, por conta disso, ela firmou sua terceira parceria com a HBO quando resolveu co-produzir a sátira O Regime. A minissérie difere de seus outros programas na emissora por estar longe de ter a seriedade de Mildred Pierce (2011) e Mare of Easttown (2021), mas assim como estas deve garantir à atriz vaga nas premiações televisivas, isso se os votantes entrarem no clima de uma ambiciosa produção que de vez em quando escorrega em seus objetivos. Na minissérie (que teve o último episódio exibido ontem pela HBO e já está completa para maratonar no Max), Kate encarna a chanceler Elena Vernham, que assume o posto que antes era ocupado por seu pai em um fictício país europeu famoso por sua produção de beterraba-sacarina e que chama atenção do mundo pela descoberta de fontes de cobalto. No entanto, a situação do país está tensa com alguns conflitos com a classe operária, além da presença de políticos e empreendedores locais que sempre querem levar vantagem. Se Elena parece ser uma governante forte, aos poucos esta imagem se desconstrói com suas neuroses e manias, são elas que abrem a porta de seu palácio para Herbert Zubak (Matthias Schoenaerts), um militar envolvido em um incidente desastroso que como "punição" fica responsável por medir a umidade de cada local que a chanceler adentrar. Elena tem horror à umidade e um tanto de atração e repulsa por Herbert. A relação entre os dois personagens irá render os acontecimentos mais inusitados do programa e, por vezes, o roteiro irá encontrar problemas para colocar as coisas nos eixos novamente perante a quantidade de absurdos em tom de galhofa que o programa apresenta até a instauração de uma guerra civil. Não existe problema algum de falar de temas sérios em tom de sátira, mas é preciso ter um roteiro bastante preciso para que a coisa funcione como deveria. Basta lembrar o que Armando Ianucci fez no cinema com Conversa Truncada/2010 (que lhe indicou ao Oscar de roteiro adaptado) e A Morte de Stallin/2017, ou nas temporadas de Veep (2012-2019) também da HBO, mas o criador desta aqui, Will Tracy (da aclamada série Succession), encontra dificuldades na elaboração da trama que se perde nas excentricidades de sua governante, comprometendo as alfinetadas políticas e o ritmo de alguns episódios, além do tom que a direção do veterano Stephen Frears e Jessica Hobbs precisam encontrar para que a coisa continue funcionando. A sorte é que a química de Kate e Matthias (já testada no esquecido filme Um Pouco de Caos/2014) segura as pontas quando tudo beira o ridículo. No entanto, a dupla também concede espaço para que outros membros do elenco brilhem, como Andrea Riseborough como a fiel governanta do palácio que está unida à chanceler por um laço afetivo inusitado, Hugh Grant como um prisioneiro político e Guillaume Galliene como o esposo traído de Elena. No fim das contas, O Regime é um programa que se assiste pela curiosidade em saber o que irá acontecer com aqueles personagens defendidos por um elenco de ouro, mas quando termina, você pensa que tudo poderia ter sido mais amarradinho e coeso.
O Regime (The Regime / EUA - Reino Unido / 2024) de Will Tracy com Kate Winslet, Matthias Schoenaerts, Andrea Riseborough, Guillaume Galliene, Hugh Grant, Henry Goodman, Martha Plimpton, Louie Mynnett e Rory Kennenan. ☻☻☻
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