Malu: as desigualdades sociais movendo a barbárie. |
A estilista Tereza (Malu Galli) passou por um grande trauma após se tornar refém de um homem armado nas ruas da cidade. Diante da resolução violenta da situação, Tereza desenvolveu um trauma que impossibilita que volte a sair de casa. Sua sensação de insegurança faz com que seu esposo, Roberto (Tavinho Teixeira) blinde o carro da família para que ela se sinta mais segura para voltar a ter vida social. Ele pretende leva-la até a fazenda de sua família para passar alguns dias, mas ao chegar lá, o casal é surpreendido pela revolta dos empregados da fazenda que descobriram que a propriedade será transformada em um hotel e que, provavelmente, eles terão que arranjar um novo lugar para trabalhar. No momento em que Roberto e seus empregados se encontram na fazenda, o caldo já entornou faz tempo e o se ele pensa que os empregados não deveriam se meter em seus negócios, existe a contraposição na ideia de que eles teriam direito a continuarem ali. Tudo poderia se resolver com uma conversa, mas aí não haveria filme, então tudo vai de um conflito sobre desigualdades sociais em um caso de barbárie. O cineasta Daniel Bandeira começa seu segundo filme de forma interessante, mas ao optar por criar uma tensão crescente entre os personagens através da violência, alguns pontos importantes se perdem pelo caminho. Tudo aqui é resolvido na força bruta, ao ponto de Tereza encontrar refúgio no carro blindado, que aos poucos ao invés de expressar segurança se torna sua prisão até o final do filme. Na tentativa de criar situações cada vez mais extremas, o roteiro revela algumas situações que não fazem sentido (como a gasolina de um carro blindado consegue ser retirada de forma tão fácil? Como a enorme fazenda tem uma internet tão boa em todos os cantos? Por que umaa família que viu que tudo aquilo daria errado, resolve deixar o filho mais novo no meio da confusão? Sem falar na personagem que ao encontrar com a protagonista prefere fazer um vídeo de celular para seus cúmplices). Se havia alguma intenção séria na trama do filme, ela se enfraquece com tantos tropeços no seu texto. Talvez a ideia do filme seja essa mesmo, que a tensão entre as pessoas faça com que todos percam a razão, até o roteirista. O que poderia ser um drama de suspense interessante sobre as diferenças sociais, se torna numa obra um tanto trash sobre um problema social sério. Bandeira não julga as atitudes de seus personagens, mas também não lhes oferece tridimensionalidade suficiente para que sejam percebidos como pessoas de carne osso. Quem consegue se sair melhor em cena é Malu Galli, mas a complexidade de sua personagem não chega a ser bem aproveitada na situação horripilante em que se meteu. No fim das contas, Propriedade parece um filhote de Bacurau (2019), que ainda que eu não considere o filme maravilhoso que muitos dizem, ainda consegue trabalhar a violência sem perder de vista suas intenções.
Propriedade (Brasil/2023) de Daniel Bandeira com Malu Galli, Tavinho Teixeira, Anderson Cleber, Zuleika Ferreira, Sandro Guerra, Roberta Lúcia, Marcílio Moraes e Nivaldo Nascimento. ☻☻
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