Johanne (Ella Øverbye) é uma adolescente de 16 anos que se percebe apaixonada pela professora de artes, Johanna (Selome Emnetu). Ela fica tão apaixonada pela professora que passa a lhe fazer visitas frequentes com a desculpa de aprender a fazer crochê. No entanto, um rompimento acontece e para filtrar melhor as emoções ela escreve sobre a relação das duas e, ainda querendo desabafar sobre o que aconteceu, ela mostra o texto para a avó, que é editora. Diante das palavras da jovem, a avó fica preocupada, mas um tanto envaidecida em saber que a neta é capaz de escrever tão bem. Além disso, a avó percebe que precisa comunicar à mãe sobre o ocorrido e a situação se desenrola entre várias camadas. Essas camadas se misturam na narrativa, nunca deixando muito claro o que de fato aconteceu e o que é imaginação de Johanne. São pontuadas várias questões, a da mãe que considera que a filha foi vítima de abuso por parte da professora, a da avó que considera que o texto pode se tornar um sucesso editorial, a editora que quer vender o livro como uma narrativa de "despertar de uma jovem queer" e as questões da própria Johanne que queria desabafar sobre o que sentia. Dreams é o encerramento da trilogia de Dag Johan Haugerud também composta pelos anteriores Sex (2024) e Love (2024), mas foi o desfecho que se tornou mais conhecido com seu Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano. Embora não seja o meu favorito da trilogia, é um filme que se beneficia muito da ambiguidade complicada da temática que aborda, a qual o diretor demonstra ter bastante sensibilidade na abordagem. Sem escândalos ou apelações, o filme descasca as emoções da personagem e a situação narrada em momentos interessantes como o diálogo da mãe de Johanne com a professora ou aquele desfecho da protagonista junto ao terapeuta. Falando nisso, o terapeuta Bjørn (Lars Jacob Holm) volta a aparecer após a participação minúscula no primeiro filme e o destaque do segundo, assim como ele, o enfermeiro Tor (Tayo Citadella Jacobsen) também aparece, logo no início, mas é uma pena que o filme não apresenta nenhum desdobramento do relacionamento que os dois tiveram no filme anterior. Ainda que o filme seja interessante, ainda considero Love o meu favorito com seus diálogos que parecem saídos de uma sessão de terapia. No entanto, ao final da sessão, tenho a impressão que se Todd Haynes não fosse o presidente do júri no Festival de Berlim, dificilmente ele sairia de lá com a honraria máxima. O filme dialoga muito com a cinematografia de Haynes e também me lembrou um pouco Dentro da Casa (2012) de François Ozon se tivesse um pouco mais de pés no chão. Um desfecho interessante para a trilogia sobre as relações amorosas nos dias atuais.
Dreams ( Drømmer / Noruega - 2025) de Dag Johan Haugerud com Ella Øverbye, Selome Emnetu, Ane Dahl Torp, Anne Marit Jacobsen, Andrine Sæther, Ingrid Giæver e Lars Jacob Holm. ☻☻☻☻
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