Aaron Schimberg estreou na direção com Go Down Death (2013) filme indie em preto e branco que não conseguiu muita repercussão com sua narrativa de contos macabros. Um tanto mais palatável foi seu segundo trabalho, Chained for Life (2018) que traz alguns elementos semelhantes com Um Homem Diferente (2024), que apareceu em algumas premiações do ano passado. Em comum, os dois filmes tem o ótimo trabalho de Adam Pearson, um ator inglês com neurofibromatose (uma doença genética que causa o crescimento de tumores benignos no tecido nervoso). Se no filme do ano passado Schimberg contou a história de um ator que se submete à um tratamento experimental para se curar da neurofibromatose e embarca em uma crise de identidade, em Chained for Life temos um filme dentro do filme sobre um grupo de pessoas com particularidades físicas que buscam tratamento em um hospital liderado por um médico em busca de métodos revolucionários. A protagonista do filme (e do outro filme) é Mabel (Jess Weixler), cuja personagem cega que interpreta convive com os outros personagens sem saber exatamente a aparência de quem a cerca. Ela começa a ter um relacionamento especial com Rosenthal (Adam Pearson) no filme e o mesmo acontece com os dois atores que se tornam cada vez mais próximos. Fosse o filme só isso já seria interessante, mas Schimberg não se contenta e começa a inserir outras narrativas na produção, o que pode deixar a trama um tanto confusa para alguns, mas que também deixa o deixa mais interessante ao brincar com a percepção que o espectador tem do que assiste na tela. Acho que nem vale a pena citar como tudo se desenrola para não atrapalhar as surpresas que o filme reserva no meio do caminho, seja uma história paralela, um final alternativo e até um acidente arrepiante durante as filmagens. Sem dúvida Aaron Schimberg é um diretor para se ficar de olho, especialmente pela forma desafiadora como trabalha questões vinculadas à aparência e a identidade em tempos em que a imagem se tornou uma verdadeira obsessão com suas harmonizações e filtros digitais. Tanto em Chained for Life quanto em Um Homem Diferente temos personagens que percebem suas aparências como uma marca de sua identidade, de quem se é de verdade. Ainda que a citação de início provoque com sua alusão à importância da aparência dos atores para seu oficio, a narrativa por vezes a vira isso do avesso no filme e nos caminhos criativos que os outros personagens sugerem no decorrer da história. No meio de tudo isso, Adam Pearson faz um trabalho realmente destemido. Acho muito interessante que ele tenha conquistado espaço no cinema após seu trabalho como o personagem mais tocante do gélido Sob a Pele (2013) e levando em consideração as intenções cada vez mais evidentes do cinema de Schimberg, ele se torna um muso sob medida. Chained for Life é um filme difícil de classificar por sua mistura de gêneros, o que não impede que seja muito interessante ainda que seu último ato seja menos interessante do que deveria.
Chained for Life (EUA - 2018) de Aaron Schimberg com Jess Weixler, Aaron Pearson, Charlie Korsmo, Sari Lennick, Stephen Plunkett, Frank Mosley e Joaquina Kalukango. ☻☻☻☻
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