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| Pamela Anderson: renascida das cinzas. |
Pamela Anderson foi uma das atrizes mais comentadas dos anos 1990, muito por conta de seu trabalho na série Baywatch (1989-2001) que ficou popular no Brasil com o nome de S.O.S. Malibu. É verdade que o sucesso da atriz tinha mais relação com sua anatomia do que com seus dotes dramáticos que, digamos, não tinham muito espaço na série. Com o fim do programa, Pamela não emplacou novas séries, não conseguiu sucessos de bilheteria e ainda se meteu em uma das situações mais bizarras da história do showbizz quando uma fita VHS em que havia registro de relações sexuais com seu esposo ganhou o submundo da Internet. Pamela, que nunca havia sido levada a sério, virou motivo de chacota. Recentemente a trajetória da atriz foi revisitada em duas ocasiões. Na minissérie Pam & Tommy (2022) sobre a famigerada fita e vídeo e em um documentário (2022) realizado para a Netflix sobre a vida atual da atriz. No documentário, Pamela aparecia mais madura e disposta a provar seu valor como atriz ao encarar uma conhecida peça de teatro nos palcos. Acho que a cineasta Gia Coppola assistiu aquele documentário e pensou que a loura era a atriz ideal para seu novo filme sobre uma showgirl que após anos em cartaz com um show em Las Vegas, precisa colocar sua vida em perspectiva para conseguir seguir em frente. Pamela vive Shelly Gardner, uma veterana dos palcos que um dia recebe a péssima notícia que o espetáculo do qual participa há trinta anos sairá de cartaz. Se suas colegas de palco recebem a notícia com certo desamparo, a reação de Shelly beira o desespero. Não apenas por conta da idade que não é mais a mesma de quando o show estreou, mas também pelas contas que não serão suspensas e, rincipalmente por conta da dose de glamour (ainda que modesta) que sua vida perderá. É justamente no encantamento que Shelly percebe em sua vida nos palcos que reside o que A Última Showgirl tem de mais tocante. Para a maioria das pessoas, aquele show já saiu de moda faz tempo e soa até decadente com o pouco público que atrai, mas para Shelly, aquele é seu lugar no mundo. Onde ela percebe que faz a diferença, já que a vida do lado de fora não tem muita graça sem os brilhos, mas cheia de conflitos com a filha e a vida amorosa estacionada para administrar. Em alguns momentos o filme parece demonstrar que o show deixou Shelly numa espécie de redoma, em que ela ficou até protegida do passar do tempo (ou seria apenas alienada de todo o resto?). A ideia de voltar a fazer testes de seleção e se deparar com coreografias bem mais explicitas e sexualizadas do que as do passado lhe deixam um tanto aflita e, tudo isso, contrasta com a voz doce quase infantilizada que Pamela imprime à personagem em seu rosto marcado pelo tempo. A forma como a atriz defende a personagem a colocou no páreo de diversas premiações deste ano (SAG, Globo de Ouro, Gotham e até um Prêmio Redenção no Framboesa de Ouro) e provou que Pamela realmente sabe atuar. Se aprendeu ao longo de sua trajetória complicada ou nunca percebemos por não terem lhe dado um papel que prestasse não importa. O fato é que os medos e inseguranças de Shelly se tornam palpáveis no filme e, não satisfeita, Gia Coppola coloca um grupo de personagens interessantes em torno dela, seja a novata vivida por Kiernan Shipka, a garçonete rouba-cenas de Jamie Lee Curtis ou o administrador interpretado por Dave Bautista. Por vezes o roteiro até ironiza o fato destes personagens formarem uma família, mas na verdade estão todos solitários em suas insatisfações. Com fotografia granulada e doses cavalares de melancolia, A Última Showgirl se tornou um daqueles filmes que muda a trajetória de uma artista. Conseguir este feito aos 58 anos em um filme que critica o hetarismo em uma indústria que sexualiza corpos femininos para descartá-los depois não é pouca coisa.
A Última Showgirl (The Last Showgirl / EUA - 2024) de Gia Coppola com Pamela Anderson, Kiernan Shipka, Jamie Lee Curtis, Brenda Song, Dave Bautista, Billie Lourd e Jason Schwartzman ☻☻☻☻

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