Die, Steve e Lyka: ótimas atuações.
Steve é um adolescente de dezesseis anos que acaba de voltar para a casa depois de sair de uma instituição para jovens problemáticos. O motivo de seu retorno é ter colocado fogo na cozinha da instituição e provocado sérias queimaduras em um colega. A mãe, uma viúva com problemas financeiros, sabe que o retorno do pimpolho irá lhe causar problemas, especialmente porque embora tenha diagnóstico de ter Déficit de Atenção e Hiperatividade (o popular TDAH), Steve ainda demonstra uma violência inconsequente, o que pode até causar suspeitas de uma psicopatia. Sendo assim, num futuro próximo idealizado pelo diretor Xavier Dolan, Steve (o promissor Antoine-Olivier Pilon) poderia ser internado por conta de seu quadro comportamental, algo que sua mãe, Diane Després (a ótima Anne Dorval) quer evitar ao máximo, embora seu lar torne-se cada vez mais caótico (no qual seu apelido, Die - "morra" em inglês - parece uma espécie de profecia). Em poucos dias de convivência o relacionamento entre os dois chegará ao limite e, nesse momento, aparece a vizinha gaga Kyla (a igualmente ótima Suzanne Clément) que irá proporcionar algum equilíbrio no relacionamento entre mãe e filho. Se Steve tem um temperamento vulcânico, sua mãe não fica muito atrás, mas a presença contida de Diane traz novos ares para os dois, embora esteja impossibilitada de lecionar por conta da gagueira, aos poucos percebemos que ela é afetada diretamente pelo seu ambiente familiar claustrofóbico (e uma cena de embate com Steve soa como uma verdadeira libertação para a ela). Falando em claustrofobia e libertação, Xavier Dolan opta por utilizar um formato de tela quadrado durante quase toda a sessão (somente duas cenas utilizam a tela por completo), a opção gera desconforto, mas reforça o sentimento de isolamento, solidão e pressão existente sobre seus personagens defendidos por um elenco excepcional. Doval e Pilon deixa a emoção dos personagens sempre a flor da pele, num excelente contraponto à atuação certeiramente contida de Suzanne Clément. Com o trio, podemos até desviar a atenção de alguns problemas que o filme possui. Dolan é considerado por alguns um prodígio, afinal, aos vinte e cinco anos já dirigiu cinco longas em cinco anos de carreira, seus filmes almejam ser levados a sério, compondo uma obra autoral, mas algumas obsessões do cineasta colocaram alguns críticos no seu pé e, diante de Mommy percebemos claramente o motivo. O maior problema é que ele poderia ser mais curto, com mais de duas horas de duração o filme é cansativo a medida que o diretor utiliza alguns cacoetes estéticos para emular um estilo que ainda parece frágil. Alguns dizem que Xavier quer misturar tudo o que aprendeu na escola de cinema num único filme, sendo assim, repete alguns recursos à exaustão - como o recurso de utilizar canções pop para pontuar a narrativa, estão lá (entre outros) Oasis, Celine Dion, Lana Del Rey (a mais bem utilizada numa dolorida conclusão ao final aberto) e cenas de histeria que um tanto repetitivas. Até lá, Pilon e Doval já deixaram marcadas a essência de seus personagens, não precisa ficar repetindo os atritos entre os dois a cada dez minutos. No entanto, Xavier tem a criatividade suficiente para construir o magnífico plano em que mostra o futuro possível de Steve aos olhos de Diane numa sequência belíssima e profundamente emocional que arrebata o espectador sem aviso prévio( para depois criar um nó na garganta irremediável que permanece até a última cena). Ainda assim, comparado aos filmes de Dolan a que assisti (Laurence Anyways/2012 e Tom à La Ferme/2014) esse é seu filme mais polido (ainda que volte à sua fixação com a figura materna da estreia em Eu Matei a Minha Mãe/2009) e com o diferencial de se distanciar da temática LGBT. Ganhador do Prêmio do Júri, multipremiado no Canadian Screen Awards e indicado pelo Canadá a concorrer uma vaga (náufraga) no Oscar, Mommy ainda consegue envolver o espectador com suas mudanças bruscas concomitantes ao do jovem protagonista. Dolan nunca esteve tão perto de criar sua obra-prima.
Suzanne, Antine, Xavier e Anne: prêmio em Cannes.
Mommy (Canadá/2014) de Xavier Dolan com Anne Dorval, Antoine-Olivier Pilon, Suzanne Clément, Patrick Huard, Viviane Pascal e Alexandre Goyette. ☻☻☻
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