Pasternak: Apenas o começo de um filme deliciosamente nervoso.
Indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro desse ano, o argentino Relatos Selvagens era o mais esperto entre seus oponentes. Dirigido por Damián Szifrón, o longa é composto de curtas que giram em torno de vinganças - algumas simples, outras mais elaboradas e a grande maioria destacando como esse tipo de ação beira o ridículo. Apesar de tudo que a temática pode trazer de violento, Szifrón consegue não apenas injetar humor negro nos momentos mais insólitos, como também afastar o espectador de qualquer comodidade diante das seis histórias que apresenta. Se você percebe essas características logo de primeira na história onde todos os passageiros de um avião ficam assustados ao perceberem que todos conhecem um homem chamado Pasternak, você irá perceber que o filme gera tanto risos e desconforto na plateia. Após os créditos de abertura (recheados de ironia com os animais fazendo a vez de seus atores) o filme segue com o horror de "Ratazanas" quando uma garçonete reencontra o homem que destruiu sua família (e conta com a ajuda de uma cozinheira se vingar). Em seguida traz dois homens (Leonardo Sbaraglia e Walter Donato) tentando provar um para o outro quem é o mais forte após um desentendimento na estrada. Os personagens perdem qualquer traço de civilização numa disputa inconsequente onde a violência torna-se ainda mais absurda. Depois, o filme mostra um homem (Ricardo Darín) com graves problemas emocionais e que vê a chance de se vingar do mundo no Departamento de Trânsito. Quando você pensa que entendeu as regras do filme, ele apresenta "A Proposta", onde uma família rica tenta disfarçar a bobagem que o jovem filho inconsequente fez e, por alguns instantes, você até esquece do que trata os curtas que compõem o filme. A sessão fecha com chave de ouro com "Até que A Morte nos Separe", onde uma noiva (a ótima Erica Rivas) descobre que o noivo (Diego Gentile) a traiu com uma colega de trabalho e resolve se vingar durante a mais desastrosa festa de casamento que já vi no cinema. A história final consegue ser exageradamente divertida, com tintas de melodrama e toques o-casamento-de-Carrie-A-Estranha e deixa gosto de quero mais. Com cortes precisos e atuações intensas, Relatos Selvagens foi indicado à Palma de Ouro de Cannes por sua originalidade na difícil tarefa de manter o ritmo e a coesão durante um longa formado por curtas isolados. Unidos de forma vigorosa com o estilo narrativo do cineasta, Relatos Selvagens é uma grata surpresa no gênero.
Relatos Selvagens (Relatos Salvajes/Argentina-2014) de Damián Szifrón com Darío Gandinetti, María Marull, Leonardo Sbaraglia, Ricardo Darín, Diego Gentile e Erica Rivas. ☻☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário