Lithgow e Molina: casal exemplar.
Esse ano aconteceu algo muito interessante no Independent Spirit Awards, a premiação voltada somente para os indies - e é considerada o Oscar das pequenas produções - teve quatro de seus cinco concorrentes da categoria de melhor filme indicados ao Oscar de Melhor Filme do Ano: Boyhood, Birdman, Selma e Whiplash concorreram em ambas as premiações (que antes eram vistas como diametralmente opostas). O único que ficou de fora da festa da Academia foi esse O Amor é Estranho, filme que entra em cartaz essa semana no Brasil, mas que já podia ser conferido em pré-estreias e alguns festivais. O ISA indicou o longa a outras três categorias (roteiro, melhor ator para John Lithgow e ator coadjuvante para Alfred Molina) e poderia ser lembrado pelos votantes da Academia se não fosse a abordagem de sua temática com tanta naturalidade. Mais uma vez o diretor Ira Sachs volta sua câmera par um relacionamento homoafetivo, mas diferente do que fez em Deixe a Luz Acesa (2012) optou por uma linguagem contida, levemente cômica, nada tórrida e bastante afetiva de seu casal masculino. O resultado é um filme que mostra um casal gay maduro e bem resolvido, mas que poderia ser trocado por um casal heterossexual sem que afetasse os pilares da trama. Ao mostrar seus protagonistas distante dos estereótipos, Sachs se beneficia da universalização do desconforto vivido por eles perante o fato de ficarem sem teto. Embora não exista uma enfatização do preconceito contra os homossexuais, O Amor é Estranho tem sua trama desencadeada por um ato preconceituoso amparado pelos dogmas religiosos. Embora o roteiro não levante polêmicas, é justamente quando Ben (Lithgow) e George (Molina) resolvem se casar (depois de 39 anos vivendo juntos) que George perde o seu emprego de professor de música numa tradicional escola católica de Nova York. Todos na escola sabiam que George e Ben formavam um casal, mas o medo do escândalo muda drasticamente a vida do casal. Curioso a partir daí, Sachs coloca os dois dependendo dos convidados da cerimônia - que elogiavam tanto os dois como amigos, parentes e símbolo de amor e união... mas agora, quando dependem da ajuda a situação muda de figura. Os dois acabam tendo que viver separados, George vai morar com um amigo vizinho que tem sempre a casa cheia e barulhenta - o que atrapalha o seu sossego. Já Ben vai morar com um sobrinho (Darren E. Burrows) e acaba atrapalhando a esposa dele (vivida por Marisa Tomei) que é escritora (e fica impaciente sempre que Ben busca uma conversa e atrapalha o seu processo de escrita), isso sem falar no filho do casal, Joey (Charlie Tahan) que tem que dividir o quarto com aquele senhor de setenta e poucos anos a contragosto. Os conflitos entre os personagens são construídos de maneira branda pelo diretor, que sem escândalo destrincha a estranha sensação de ser um incômodo. O elenco está muito bem em suas atuações naturalistas e conseguem ser bastante convincentes, especialmente Lithgow e Molina que convencem como o casal que deve enfrentar um grande desafio - que curiosamente consiste em viver separado depois que se casam. Fazia tempo que John Lithgow não recebia um papel tão consistente e que lhe proporcionasse uma atuação tão emocional, da mesma forma, Alfred Molina está ainda melhor em sua inconformidade silenciada pela situação que atravessam. Quando estão em cena esquecemos até algumas superficialidades (como na abordagem das implicâncias da escritora temperamental com Ben ou o final doloroso dos protagonistas que quebra o clima do filme). Ainda assim, o texto que Ira Sachs deixa nas entrelinhas consegue ser bastante interessante num mundo repleto de sensacionalismo.
O Amor é Estranho (Love is Strange/EUA-França-Brasil-Grécia/2014) de Ira Sachs com John Lithgow, Alfred Molina, Marisa Tomei, Darren E. Burrows, Charlie Tahan, Eric Tabach e Cheyenne Jackson. ☻☻☻☻
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