Carey, Ed e Jake: família em crise.
Bom ator conhecido por seus trabalhos em filmes independentes, Paul Dano estreou na direção no ano passado com o drama Wild Life. Exibido no Festival de Cannes, o filme recebeu elogios que o colocaram entre os favoritos para as premiações de fim de ano. Não foi bem assim. Apesar de celebrado pela crítica e com ótima acolhida em festivais, o filme conseguiu destaque somente no Independent Spirit com indicações a melhor atriz (Carey Mulligan), fotografia e melhor primeiro filme. Talvez se fosse menos melancólico o filme recebesse a atenção merecida, uma vez que, Paul Dano realiza um ótimo trabalho atrás das câmeras. A história gira em torno de uma típica família americana dos anos 1950 e o que confere à narrativa um toque especial é o foco no olhar do filho adolescente, Joe (o ótimo Ed Oxenbould), que aos quatorze anos vê o casamento de seus pais se dissolver diante dos seus olhos. Se no início o que vemos é um lar perfeito, logo esta ideia se desfaz quando o patriarca Jerry (Jake Gyllenhaal) perde o emprego. No início, a esposa Jean (Carey Mulligan) começa a trabalhar para ajudar nas despesas da casa, mas logo as fissuras do relacionamento começam a aparecer e se fragilizam ainda mais quando Jerry aceita um emprego bastante arriscado na região. Em tom introspectivo, o diretor foca no relacionamento entre mãe e filho na distância do pai, tendo a dinâmica entre os dois alterada Jean muda seu comportamento de forma surpreendente. Com ótima edição e grande segurança na condução da narrativa, Paul Dano economiza no uso da trilha sonora, não cria firulas ou situações cômicas para aliviar a tensão e demonstra grande habilidade em transformar os conflitos daquelas relações num verdadeiro suspense. Diante de nossa identificação com Joe, existe a atmosfera de uma ameaça constante ao lar e a união de seus pais - que demonstra-se bem menos idílica do que ele imaginava. Colabora muito para isso a sintonia perfeita entre os atores. Jake Gyllenhaal tem poucos momentos em cena, mas está bastante convincente como o pai meio atrapalhado em suas decisões, já a inglesa Carey Mulligan (caprichando no sotaque sulista) tem uma tarefa bem mais complicada ao ter que lidar com uma personagem que se transforma a cada cena. A atriz descasca Jean ao longo da história e consegue exibir suas nuances bastante diferentes sem perder o fio da meada. Os conflitos que a personagem atravessa lhe garantiram muitos elogios (e assusta imaginar que embora a atriz pareça jovem para o papel, ela tem realmente a idade da personagem). Bem cuidado visualmente e emocionalmente, Vida Selvagem é uma estreia bastante promissora para um ator que se acostumou a viver tipos estranhos no cinema. Vale destacar que este é mais um roteiro assinado por Paul Dano e sua esposa Zoe Kazan, que mais uma vez realizam um belo acerto juntos.
Vida Selvagem (Wild Life / EUA - 2018) de Paul Dano com Ed Oxenbould, Carey Mulligan, Jake Gyllenhaal, Bill Camp, Darryl Cox e Zoe Margaret Colletti. ☻☻☻☻☻
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